«Adorava fazer novela em Portugal», Alexandre Borges ao Zapping

Alexandre Borges Cadinho
Alexandre Borges está em Portugal e falou com o Zapping

Alexandre Borges, o Cadinho de “Avenida Brasil” está em Portugal e falou com o Zapping. O ator está num espetáculo com o pianista português João Vasco de Almeida. Ambos protagonizam na Fundação José Saramago, em Lisboa, o recital “Poema Bar”. Este evento pretende celebrar a poesia do brasileiro Vinicius de Moraes e do português Fernando Pessoa, contando com canções brasileiras e portuguesas.

A ideia surgiu numa das muitas viagens que faz a Portugal. Ao passar, na última visita, pela Casa dos Bicos (sede da Fundação Saramago), olhou para o chão e ao ler as palavras do Nobel da Literatura começou a idealizar este espetáculo que agora pode mostrar em Portugal.

O ator já fez quase 20 novelas e inúmeras minisséries. A estreia aconteceu em 1993 na série da Manchete “O Marajá”. Estreou-se com a agora mulher Júlia Lemmertz (a Esther de “Fina Estampa”).

Dono de inúmeras personagens, o ator acha que o «Cadinho foi a personagem mais mediática onde o povo se aproximou de verdade de mim». Porém não é a sua personagem preferida: «A personagem que eu mais gostei, ou por outra, das que eu mais gostei, foi o Danilo de “Laços de Família” porque teve humor e porque associo essa época da minha vida ao nascimento do meu filho, que foi precisamente nesse ano», conta-nos.

Mas há outras novelas que ficaram na sua memória. «Adorei fazer “Filhas da Mãe”, tinha um humor muito próprio e contracenava com Cláudia Raia que fazia um mulherão… transsexual. Foi maravilhoso. Das mais recentes, não posso deixar de falar de “Ti Ti Ti” e “Caminho das Índias”, essa última chegou mesmo a ganhar um Emmy, você lembra-se?».

“A Próxima Vítima” foi a novela que mudou tudo. «Essa novela de Sílvio Abreu deu um click na minha carreira. Antes de “A Próxima Vítima” eu não era tão conhecido. Essa trama abriu-me muitas portas… e eu entrei nelas todas».

Entre drama e comédia, Alexandre Borges não tem dúvida: Comédia! «Adorei “Ti Ti Ti” precisamente pelo humor e por ter sido dirigida por Jorge Fernando, que percebe muito de núcleo cómico. Era engraçado ver as crianças atrás de mim a chamarem-me ‘Jacques Leclair’. Nunca tinha vivido isso», revela. E continua afirmando que gosta «de fazer comédia» porque se «sente à vontade».

E será o ator tão louco quanto as suas personagens cómicas? «Ah, sem essa!», começa por dizer com o seu jeito brasileiro. «Eu não sou assim na vida real, mas tenho muita cara de pau e não tenho o mínimo medo de me expor ao ridículo. Se a personagem exigir, eu faço tudo… mas está aí a dificuldade… há uma linha muito ténue que separa o ridículo bom do ridículo mau. Uma coisa é você conseguir arrancar sorrisos, outra é todo o mundo ficar a olhar quase com pena».

Fã de Charlie Chaplin, o Cadinho de “Avenida Brasil” gosta mesmo de comédia ridícula quando é bem feita. «A tragédia é contida e não usa tanto o corpo. Eu gosto mesmo de usar o corpo em comédia. Humor físico. Jacques Leclair tinha isso tudo, foi um brinde. Em comédia nada é estático».

O ator vê muita ficção portuguesa. Não acompanha as tramas, mas costuma ver pelo menos um episódio. «Vejo desde o tempo que a RTP estava sozinha e notei todo o vosso crescimento. É impressionante», revela. «Acredito que o Walter Avancini [diretor brasileiro que esteve em Portugal] foi muito importante. Há uma novela portuguesa antes dele e outra depois dele».

Quanto a “Dancin’ Days”, Alexandre diz que «é um clássico, mas faz este sucesso todo devido aos portugueses, aos atores e técnicos e não só por ter espinha dorsal brasileira. Foram os portugueses que transformaram a novela portuguesa no que ela é hoje, uma indústria vencedora de prémios internacionais».

Em relação a entrar numa novela portuguesa, a palavra é só uma: «Adorava!». Confessa que tinha de ser uma personagem com substância, mesmo que pequenina, mas esse é um desejo que tem. Já fez um filme em Portugal e adorava trabalhar outra vez cá. «Podia fazer um teste para verem se se aceitavam…».

Com uma personagem adúltera em “Avenida Brasil”, o ator confessa que «via a novela em família e o meu filho fartava-se de gozar comigo devido ao facto de eu estar constantemente a passar de casa em casa e por diversas vezes quase ser apanhado». Mas nem sempre foi assim: «Com “Ti Ti Ti” o meu filho não ligava tanto».

Com a mulher, Julia Lemmertz, também atriz e a viver a Esther de “Fina Estampa” a reação era parecida. «Também viamos “Fina Estampa” em família. O meu filho gozava comigo constantemente por ver a mãe a beijar os seus pretendentes na novela e aí a Júlia olhava para mim com aquele ar de “ah não te preocupes, aquilo é trabalho”. Agora em “Avenida Brasil” é ao contrário. Somos atores, faz parte».

O formato novela para o ator tem futuro, mas com uma condição: «Não adianta inventar muito em novela e nem contar só o quotidiano. Precisa de fantasia, de entretenimento, se não não funciona. As pessoas têm de sonhar», adverte.