‘Boyhood’: A Crítica

BoyhoodRichard Linklater prometeu devolver o dinheiro do bilhete a quem fosse ver o filme e não gostasse. Contudo, parece que o realizador de ‘Boyhood‘ não terá de fazer cumprir a sua palavra. Aclamado pela crítica que descreve a trama como «sóbria», torna-se impossível não nos identificarmos com a vida Mason. Um elenco competente e um argumento forte são alguns dos ingredientes que poderão dar a estatueta de Best Movie à longa-metragem.

A premissa da história é simples e já vista: a vida de um jovem dos seus 5 aos 18 anos. Adicionam-se depois os conflitos familiares, o bullying, as primeiras experiências, o ingresso no mundo profissional e o futuro académico do jovem rapaz. Poderia estar a descrever outras tanta histórias de séries, filmes ou novelas, no entanto ‘Boyhood‘ apresenta um “trunfo” completamente novo. Durante 12 anos todo o elenco viveu em paralelo com a vida dos seus personagens criando laços entre si, que são visíveis no filme, e acompanhando o crescimento de Ellar Coltrane, o jovem protagonista.

Acompanhar a vida dos intervenientes trás uma nova maneira de representar e, consequentemente, outra credibilidade à história. O “golpe de sorte” na escolha do protagonista é outro ponto positivo do filme. Usando a sua experiência pessoal, Ellar consegue transmitir uma enorme veracidade à história que nos faz, por momentos, questionar se não será a vida do ator que está a ser levada para o grande ecrã.

boyhood familyA longa-metragem traz também uma estreante na corrida ao Oscar. Patrícia Arquette, que estamos habituados a ver na série da CBS ‘Medium‘ é uma das indicadas ao prémio de Best Supporting Actriz e é, também, uma das favoritas. A sua atuação como uma mãe que sofre vários divórcios mas que ao mesmo tempo luta por uma carreira melhor e por dar aos filhos o que eles merecem, não deixou ninguém indiferente. A atriz conta já com vários prémios e nomeações pelo seu papel, entre as quais uma nomeação para os Globos de Ouro deste ano.

A última cena de Patrícia em ‘Boyhood‘ em que a vemos desolada com a ida de Manson para a universidade é um dos momentos mais marcantes da sua atuação e também uma das imagens mais comoventes do filme.

Ethan Hawke, que dá vida ao pai de Manson e Samantha no drama familiar, volta a estar na corrida pela estatueta mais desejada do mundo da ficção. O ator já esteve nomeado uma vez pela sua participação em ‘Training Day‘, em 2002, e este ano deverá repetir a categoria, Best Supporting Actor.

Hawke desempenha um papel divertido e fundamental no filme. Divorciado da personagem de Patrícia Arquette, ele procura manter a ligação com os seus dois filhos enquanto procura um caminho para a sua vida. Ao longo do tempo a representação do ator vai-se tornando mais credível, sobretudo porque o seu personagem sofre várias metamorfoses, passamos do esterótipo de pai “porreiro” para um homem dedicado à família, ao trabalho e à sua mulher.

Apresentados os indicados, levanta-se a questão: Serão Patrícia Arquette e Ethan Hawke a ganharBoyhood (1) as estatuetas para melhores atores secundários?

Na minha opinião, Patrícia e a sua personagem brilhante merecem, de todo, o prémio. Durante o filme vemos a atriz envelhecer, sem recurso à maquiagem, com uma personagem cada vez mais credível e enraizada. O “trunfo” das filmagens terem acontecido em várias fases dá à atriz uma atuação arrebatadora. Joga a favor dela o facto da academia adorar conflitos familiares, algo que é visível em vencedores de anos anteriores.

Por outro lado, Ethan não é o justo vencedor nesta categoria. Apesar da sua imaculada interpretação e da credibilidade que colocou no seu personagem, o ator peca por não ter cenas que se destaquem ao ponto de vencer a estatueta. Contudo, o compromisso de 12 anos de um ator tão requisitado em Hollywood poderá baralhar as contas.

Na corrida para Best Movie e Best Original Screenplay, a longa-metragem está entre os meus favoritos. Apesar de acreditar que vá perder para outro a categoria mais badalada do ano, ‘Boyhood‘ deverá ganhar o prémio de melhor argumento original, uma vez que se torna impossível ficarmos indiferentes a esta narrativa.