[Crítica] A 2 dias da final, o Festival da Canção 2014 visto pelos olhos dos especialistas!

FdC-1

Tal como no ano passado, os especialistas em Eurovisão João Leite e Rafael Lopes voltam a emitir opinião.

O Festival RTP da Canção 2014 foi avaliado pelos críticos e obteve um resultado diferente, quase paradoxal em termos de opinião.

João Leite

Depois de um ano fora, a RTP decidiu voltar à Eurovisão e o método para escolher a nossa canção não podia ser outro: o Festival da Canção.

Foram feitas alterações em comparação com o certame em 2012. Apesar de se ter convidado novamente compositores, este ano em vez de 12 o número foi reduzido para 10, em vez de um espetáculo teremos dois espetáculos, uma semifinal, que aconteceu no passado sábado e a final, que acontece este sábado que vem e a responsabilidade da escolha fica a cargo apenas do público.

Cinco músicas foram eliminadas na semifinal e durante esta semana os portugueses têm estado a votar na música que querem ver em Copenhaga a representar Portugal. São essas cinco músicas que vamos aqui avaliar.

Sábado tivemos a semifinal do Festival da Canção de 2014 e o espetáculo foi apenas razoavelzinho. Inho. Inho. De bom só o trabalho da Sílvia Alberto, o palco e as luzes. O José Carlos Malato fala sempre mais do que deve, o som esteve péssimo, os planos de câmara horríveis e no mais importante: as canções, nenhuma foi particularmente surpreendente, inovadora e cativante.

Ainda assim as canções “O Teu Segredo”, interpretada por uma Lara Afonso bastante carismática e com uma performance em palco bastante agradável e a orelhuda “Eu Vou”, de Ivo Lucas, mereciam um lugar na final. A RTP precisa de investir mais neste espetáculo, se quer audiência e qualidade.

Canção nº 1: “Ao Teu Encontro”
    Intérprete: Rui Andrade
    Música/Letra: Mark Paelink/Rui Andrade
Nesta música pouco resultou. O instrumental é aborrecido e óbvio, o Rui teve uma atitude arrogante em palco e a letra não tem criatividade alguma. O que de bom se tira daqui é a voz do intérprete. O Rui quer muito ir representar Portugal na Eurovisão, mas não vai ser este ano. Porque a concorrência é mais forte, mas principalmente porque a música não é boa.
Pontuação: 10/20

    Canção nº 2: “Mea Culpa”
    Intérprete: Catarina Pereira
    Música/Letra: Andrej Babic/Carlos Coelho
O objetivo aqui era fazer um upgrade de “Canta Por Mim” e apesar de ter saído uma boa canção eurovisiva, o objetivo não foi cumprido. A canção também tem uns toques eletrónicos (a lembrar a péssima “Sobrevivo” do Festival de 2011) que cortam a belíssima guitarra portuguesa. Ainda assim a canção é a melhor das cinco e uns retoques podem torná-la bem melhor e quem sabe trazer um bom resultado de Copenhaga. A performance em palco foi muito boa, mas a Catarina precisa de ganhar mais fôlego e mudar o seu vestido.
Pontuação: 15/20

Canção nº 3: “Nas Asas da Sorte”
    Intérprete: Zana
    Música/Letra: Jan Van Dijck/Paulo Abreu Lima
Não consigo ficar indiferente aos boatos que dizem que esta canção é um plágio da canção “Kom” das Timoteij (de quem sou fã). Para mim os instrumentais são parecidíssimos e o Jan devia ter algum cuidado com isso, já que em 2008 foi acusado do mesmo. Esquecendo este triste facto, a canção tem uma interpretação poderosa por parte de Zana e uma performance interessante (uma mistura de Tonicha e Simone de Oliveira), mas a letra e a orquestração tornam-na antiquada. Há umas décadas atrás venceria sem problemas.
Pontuação: 12/20

Canção nº 4: “Sonhos Roubados”
    Intérprete: Raquel Guerra
    Música/Letra: Nuno Feist/Nuno Marques da Silva
Desde os Ídolos que achei a Raquel uma cantora incrível e fiquei muito feliz com a sua participação no Festival, mas o Nuno fez mal em a escolher. A música não encaixa nada bem no seu tom de voz e algumas palavras ficaram mesmo irreconhecíveis no direto. Uma pena. A canção em si é bastante boa, apesar de lembrar excessivamente os anos 60. A letra é a melhor das dez. Com a voz correta esta canção teria muito mais potencial.
Pontuação: 13/20

 Canção nº 5: “Quero Ser Tua”
    Intérprete: Suzy
    Música/Letra: Emanuel
Todos os portugueses conhecem o clássico de Natal ‘Nesta Noite Branca’ dos Anjos com uma tal de Susana. Essa Susana agora é Suzy e vem ao Festival cantar uma música com composição de Emanuel. E esta música tem tudo o que o cantor pimba nos tem trazido nos últimos anos: um toque de ritmos africanos e uma música bastante orelhuda, o que resulta bem na Eurovisão. Mas se Suzy e Emanuel querem um grande resultado vão ter de trabalhar para ele. A Suzy precisa de dançar mais em palco e mandar embora os senhores dos tambores e trazer bailarinas e sensualidade (sem ser reles) para o palco. E o mais importante: a música precisa de uma orquestração decente. Muito trabalho a fazer, mas se for bem feito, a Suzy pode brilhar em Copenhaga.
Pontuação: 14/20

Rafael Lopes

    Canção nº 1: “Ao Teu Encontro”
    Intérprete: Rui Andrade
    Música/Letra: Mark Paelink/Rui Andrade
Uma boa balada, bem construída mas que peca por não ter originalidade nenhuma. Serve para mostrar a grande voz que o Rui tem, mas isso já nós todos sabemos. A atuação foi meio aborrecida. É apenas mais uma canção à Disney que no ESC consegue passar à final, mas depois acabam num modesto lugar (vide Filipa Azevedo, Harel Skaat, Nadine Beiler, etc…).
Pontuação: 14/20

   Canção nº 2: “Mea Culpa”
    Intérprete: Catarina Pereira
    Música/Letra: Andrej Babic/Carlos Coelho
Ora aqui está um caso bicudo para mim. É sem dúvida uma excelente composição, a melhor do Babic desde a “Canta Por Mim”, ou melhor… não será antes uma primeira versão dessa mesma canção? A melodia é idêntica, o final é praticamente o mesmo, os acordes e os instrumentos usados também. Falta originalidade aqui também. No entanto, em termos de potencial, é mais que notório que a Catarina vence.
Pontuação: 17/20

    Canção nº 3: “Nas Asas da Sorte”
    Intérprete: Zana
    Música/Letra: Jan Van Dijck/Paulo Abreu Lima
É a minha favorita de todas as 10 semifinalistas, e a que apoio na final também. Uma excelente composição aqui numa grande voz. Sem dúvida a grande surpresa deste festival. Sei que não tem qualquer hipótese de vencer, por causa da grande concorrência que enfrenta, no entanto não ficaria minimamente chateado se fosse a Zana a nossa representante em Copenhaga.
Pontuação: 18/20

    Canção nº 4: “Sonhos Roubados”
    Intérprete: Raquel Guerra
    Música/Letra: Nuno Feist/Nuno Marques da Silva
Esta é aquele caso da finalista wtf (passa-se a expressão), não se esperava o seu apuramento. A actuação ao vivo foi confusa, não se percebia bem aquilo que a Raquel dizia, mas confesso que até acho que tem potencial. É sem dúvida, para mim, a melhor composição por parte do Nuno Feist, mas nesta aqui não gostei da letra, muito ultrapassada. Penso não ter hipóteses de vencer no próximo sábado.
Pontuação: 15/20

    Canção nº 5: “Quero Ser Tua”
    Intérprete: Suzy
    Música/Letra: Emanuel
Do que vi na televisão, pareceu-me a que mais resulta visualmente, o Emanuel sabe bem o que faz. A voz não esteve mal, mas o som do instrumental estava demasiado baixo, o que pode ter tirado algum potencial da canção. É sem dúvida a canção mais orelhuda das finalistas, uma fórmula que já funcionou muitas vezes no ESC, até para nós (consideremos que sim). A provável vencedora, e isso não me deixa desapontado!
Pontuação: 17/20

Quanto à semifinal no seu todo, achei um espetáculo bem conseguido, os apresentadores estiveram bem (mais a Sílvia do que o Malato), não encheram muitos chouriços, felizmente, e os interval acts com as homenagens também foram bem sucedidas. Só tenho pena que se continue a apostar no mesmo, que é na história, e não em algo com visão para o futuro. Mas perdoo por ser a edição de comemoração dos 50 anos do FC.

Falando agora um pouco das músicas não apuradas, a minha favorita era sem dúvida a da Lara Afonso, uma composição fresca, alegre, algo diferente do que se ouve habitualmente no festival. O Ricardo e a Carla tinham canções demasiado idênticas, e ambas foram salvas pelo seu poder vocal, tramaram-se mutuamente. O Ivo e a Madalena tinham, para mim, as canções mais fracas da noite.

Concluindo, foi o melhor Festival da Canção que assisti, desde que sigo a Eurovisão.

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