[Edição 7] “Mira Técnica”: Sem Palavras

Por Paulo Andrade

Frequentemente somos confrontados com decisões incompreensíveis dos responsáveis dos canais nacionais. Procuramos na lógica e na razão uma explicação para tal mas não encontramos. E infelizmente a imprensa especializada raramente questiona estas decisões deixando-nos sem qualquer tipo de resposta. Esta tolerância ao erro não existe noutras áreas de actividade!

Este ano ainda agora começou mas a lista já vai longa. O caso mais recente foi a substituição de “Doce Tentação” por “Equador” na TVI. Eu já dou de barato a falta de planeamento existente actualmente na TVI, mas o modo como conduziram a estreia de “Equador” é verdadeiramente alarmante e preocupante, pois revela que este director de programas não é melhor que o seu antecessor, estando a cometer os mesmos erros.

Um novo produto representa por si só um enorme risco devendo tomar-se todo o tipo de cuidados. Mesmo uma repetição necessita de ser promovida, ainda por cima quando vai para um horário atípico e competitivo como aconteceu com “Equador”.

Como se isto não fosse suficiente resolveram fazer a pior gestão possível da sua exibição em antena. Como é possível exibir um episódio à meia-noite e outro à uma da manhã? Por acaso na TVI não sabem que o consumo televisivo cai para metade de um horário para o outro? Como é que um produto que exige fidelização pode ser apresentado desta forma? O que me leva a concluir que esta reposição nunca teve como objectivo conseguir um bom desempenho mas apenas tapar um buraco na programação.

Como é que foi possível fazer esta opção, sujeitando uma série que foi um marco e um motivo de orgulho na ficção da estação a tamanha humilhação? Como é possível pôr em risco a imagem do canal com mais uma reposição se esta não tem qualquer função de maior na programação? Como é que não optaram por uma série estrangeira que faria os mesmos resultados mas sem todos estes reflexos negativos? Como se isto tudo já não fosse mau o suficiente, depois de “Equador” virá mais um “tapa-buracos” pois a este ritmo a telenovela “Mundo ao Contrário” não estará pronta a tempo.

Esta situação lembra-me o que aconteceu na RTP1 aquando da substituição de “Vidas em Jogo” em Janeiro. Continuo por perceber o recuo na estreia de “Éramos Seis” como previsto e anunciado na altura e sua substituição pela reposição de “Velhos Amigos”, para que um mês depois fosse feito o inevitável. Será que valeu a pena esta manobra de diversão? Eu acho que todos nós sabemos a resposta a esta pergunta. Um caso lamentável e perfeitamente evitável!

O que dizer da mudança da estrutura de programação de horário nobre da RTP1 um mês depois da sua estreia? Depois da apresentação à imprensa que fizeram da “nova” programação e de revelarem que esta foi o resultado de um ano de trabalho, como é que tudo pode cair por terra para colocar no ar um programa -Anticrise- que já se sabia de antemão que regressaria? Só confirmou o que eu sempre disse nesta nova RTP1, que de nova não tinha nada e que a estruturação de horários apresentada iria durar pouco tempo.

O que dizer do anúncio da nova telenovela portuguesa da RTP1? Como é que a RTP1 vai apostar num produto deste tipo e supostamente para um horário sem importância como o das 14 horas quando têm tantos horários mais importantes por resolver? Depois vêm com a conversa do costume que o orçamento não chega, esquecendo-se que gastaram parte deste onde e com o que menos interessava! Eu estou a imaginar que seja para as 14 horas, pois pensar noutro horário é completamente surreal e inconcebível num panorama televisivo como o nosso!

O que dizer das constantes flutuações de horários dos programas do primetime da SIC e TVI? Como é que os mesmos programas não são exibidos sempre à mesma hora? Só um público menos exigente e também menos interessante para os anunciantes tolera este desrespeito, pois todos os outros acabam mais tarde ou mais cedo por mudar-se para o Cabo ou outras plataformas.

O que dizer do número de telenovelas em repetição na SIC e TVI entre as 14h45 e a 00h45?

O que será melhor: encher a grelha de repetições ou colocar outro tipo de produtos? Por exemplo, a SIC e TVI ao invés de investirem numa telenovela em repetição à meia-noite porque não investiram nas séries estrangeiras? No caso da SIC um episódio de uma telenovela brasileira em repetição é mais caro do que um episódio inédito de uma série, sem contar que cada série permite duas ou três repetições com algum sucesso, não acontecendo o mesmo com as telenovelas. E sem esta medida a SIC tinha tido maior margem para investir em horários mais importantes para a melhoria da performance diária da estação, deste modo comprometeu as aspirações à liderança das audiências. Enquanto “Páginas da Vida” não faz grande diferença à meia-noite e ficou evidente esta semana que não consegue tirar partido da fragilidade da TVI no horário, pois sendo uma repetição tem as suas limitações, os horários das 14 horas e especialmente o das 18 horas continuam à espera e onde realmente um bom produto poderia fazer toda a diferença. Em relação à SIC só com o fim de “Fina Estampa” será perceptível a dimensão do prejuízo no prime access.

O que dizer das apostas da SIC em “O Formigueiro” e “Sábado à Luta” para os sábados – o dia mais problemático da estação – para agora um ter sido cancelado e o outro empurrado para o latenight à espera do mesmo fim. Será que o dinheiro investido nestes dois programas não seria suficiente para em vez de terem apostado na repetição de “Páginas da Vida” apostarem numa telenovela inédita?

O que dizer da TVI… Quando é que vão perceber que se não podem manter uma grelha só com ficção nacional terão que procurar parceiros no mundo lusófono, por exemplo, no Brasil (SBT e RECORD). Eu sei que esta opção pode gerar muita confusão e incompreensão, mas na situação actual faz todo o sentido. Não faz sentido é ter três telenovelas em repetição diariamente e ter um canal no Cabo para repetição de ficção, o TVI Ficção.

O que dizer da cópia constante de soluções e opções entre os três canais generalistas? Será que não conseguem perceber que a melhor forma de ganhar é fazendo a diferença?

Esta semana finalmente entraram em vigor os ajustes no painel de audiências levando a uma subida dos canais temáticos e a uma descida da SIC e TVI. O último ano não passou de uma ilusão para estes dois canais!

Os canais temáticos viram repostos os valores que obtinham com a Marktest, um ‘murro no estômago’ para os responsáveis dos canais privados!

Enquanto os canais generalistas não mudarem de atitude continuarão a perder quota de mercado, implicando uma redução do seu espaço de manobra, restringindo cada vez mais as opções ao seu dispor, que levará a uma cada vez maior deterioração da sua oferta e consequentemente das audiências e capacidade de obter receitas.

É preciso que de uma vez por todas compreendam que em televisão é o espectador quem mais ordena!

Este será o tema da minha próxima crónica.

Fiquem em boa companhia.