Entrevista a Patrícia Muller: «Acredito que a próxima [novela] será mais um marco»

Cedo deu cartas no jornalismo, passando depois a reinventar a realidade na ficção nacional. “O Triunfo dos Porcos”, da RTP1, lançou-a no mundo da ficção, depois disso nunca mais parou. Falamos de Patrícia Muller, autora de tramas como “Mar de Paixão” ou, mais recentemente, “Rosa Fogo”. A guionista esteve à conversa com o Zapping e revelou alguns pormenores da sua carreira e do futuro.

Zapping: Como surgiu o seu gosto pelo jornalismo e, mais tarde, pelo guionismo?
Patrícia Muller:
 Sempre achei que ia ser jornalista, desde pequena. Estudei Ciências da Comunicação na Universidade Nova e passei pela redação da revista Elle, pela RTP, por outros media. Foi na RTP, no programa “O Triunfo dos Porcos”, que escrevi a minha primeira ficção. Pouco tempo depois, soube que a Plural, antiga NBP, estava a recrutar guionistas. Mandei o meu currículo e falei com o Virgílio Castelo. Ele pôs-me à experiência e desde então nunca mais parei.

Z: Porque trocou o jornalismo pelo guionismo?
PM:
 O jornalismo obriga a uma colagem à realidade que a ficção ultrapassa. Além de que, na ficção, a vida é organizada: há um princípio, um meio e um fim. A moral – e não o moralismo – é instituída pelo guionista e eu gosto da ideia de dar um sentido ao que escrevo. O jornalismo retrata uma vida caótica e desordenada. Não tem fim.

Z: Trabalhou com vários nomes da ficção nacional como António Barreira ou Sandra Santos. Sente-se privilegiada por ter tido essas oportunidades numa estação de grandes audiências como era e é a TVI?
PM:
 António Barreira, Sandra Santos, Maria João Mira, Lígia Dias, Sara Simões, Elisabete Moreira, André Murraças, Pedro Barbosa da Silva, Eduarda Laia, Catarina Peixoto, Inês Gomes, Rita Roberto, Ana Vasques, Marina Ribeiro, Cláudia Sampaio, Lúcia Feitosa, André Ramalho, Vera Sacramento, Vasco Domingos, Ricardo Leitão… E outros de quem me esqueci, certamente. São tantos e tão bons guionistas e autores com quem trabalhei. Sim, sou uma privilegiada.

Z: Prefere trabalhar em parceria, onde as ideias e o trabalho de todos têm de caber no projeto, ou acha mais fácil trabalhar na sua novela, com as suas ideias?
PM:
 Mesmo que a ideia original seja minha, a construção de uma novela nunca depende de uma pessoa. Há uma equipa e nesta há sempre acrescentos, ideias e mudanças. Por isso, a riqueza do trabalho vem da diversidade.

Z: Quando define as suas personagens pensa diretamente no ator/atriz que as vai interpretar ou, pelo contrário, o ator/atriz é que tem que se adaptar à personagem?
PM:
 Depende. Se já souber com quem vou trabalhar, adapto de forma a conseguir uma parceria harmoniosa entre ator/personagem. Se não souber, depois o ator fará esse trabalho.

Z: E quando escreve uma novela, pensa na história completa de cada personagem ou acaba por deixar sempre em aberto para saber a recetividade de cada história?
PM:
 Deixo muita coisa em aberto. Não só por causa do público e da estação emissora – que tem sempre uma palavra a dizer – mas porque as próprias personagens acabam por nos surpreender, tanto por si só como pelos atores que as interpretam. Há interpretações que superam em larga escala o que tínhamos pensado. Logo, temos que aproveitar essa onda e seguir com ela.

Z: De todas as novelas em que participou até hoje, qual a que mais marca a sua carreira? Porquê?
PM:
 Todas as novelas marcaram a minha carreira. Os “Morangos [Com Açúcar]” porque foram a primeira, o “Mar de Paixão” porque era uma novela muito emocional e está associada a uma fase específica da minha vida, a “Rosa Fogo” porque foi nomeada para um Emmy, etc… Acredito que a próxima será mais um marco, obviamente.

Z: Acha que a ficção portuguesa tem evoluído de forma positiva?
PM:
 Muito positiva. Não só em termos de textos, como de representação, iluminação, realização, produção… Estamos ao nível de outros grandes produtores de novelas.

Z: No que toca ao futuro, pretende continuar ligada à ficção nacional ou seguir uma outra vertente?
PM:
 Vou gostar sempre de fazer ficção [sorriso]. Agora vou lançar-me nos livros no início do verão, com um lançamento, e estou a acabar outro.

Z: Perguntas rápidas:
Vício… Açúcar
Música… Brasileira
Na TV não dispenso… Séries
A pessoa que mais admiro… São muitas!
Não vivo sem… O meu filho.
Não saio de casa sem… Uma mala que pesa quilos.
Um dia corre bem quando… Consigo fazer o que quero.

Z: Para terminar, a sua vida dava um filme porque?
Não dava. É muito aborrecida [risos].

Entrevista: Samuel Rocha
Revisão: Margarida Costa