Exclusivo SIC insurge-se contra a estação

Albano Jerónimo

É um dos poucos atores que tem contrato de exclusividade com a SIC, mas nem isso impediu que atacasse a estação nas redes sociais.

Albano Jerónimo assinou vínculo com a estação de Carnaxide no verão de 2016 e só começou a gravar “Paixão” quase um ano depois.

Na passada sexta-feira, o ator foi convidado pela SIC a estar no “Jornal das 7” da SIC Noticias para comentar a situação dos artistas e da Cultura em Portugal. Dado a novos desenvolvimentos no Futebol Português, com Bruno Carvalho a suspender grande parte dos jogados do Sporting para o jogo deste domingo, Albano Jerónimo acabou por não ter espaço no noticiário, onde nem sequer participou.

«Aguardei, aguardei, até que me vieram dizer que afinal não havia tempo. Que afinal o tema futebol tinha ganho protagonismo e que segundo “ordens de cima” (eras tu, Deus? Ou seria um consciente director de programas? Ou um director de informação emocionado com o Bruno de Carvalho ou com audiências? Ou seria o pensamento de ir atrás dos outros canais nas audiências e ratings da vida televisiva?!!!), tinham esgotado o tempo do noticiário. Já não tinham tempo para a Cultura», desabafou o ator exclusivo da SIC.

Albano Jerónimo pode ser visto diariamente na antena de Carnaxide na novela “Paixão”.

Veja as declarações do ator:

Aconteceu-me ontem, dia 6 de Abril de 2018, 19h.
Ontem, no maior ajuntamento da classe artística que há memória num pós 25 de Abril.
PARADIGMA DA IMPORTÂNCIA QUE OS ÓRGÃOS DE COMUNICAÇÃO DÃO À CULTURA EM PORTUGAL.
“Mais do que um Ministério da Cultura, é preciso um governo de cultura.”
António Costa 2015
Convidaram-me, e esta seria a frase da minha abertura, para ir comentar a situação dos ar-tistas, da Cultura e da massiva manifestação por todo este Portugal. Iria falar do “novo” mo-delo de apoio às Artes, da precariedade da profissão, da urgência de um reforço orçamental para a cultura (1%), de que não existe um favor do estado (que fique claro) ao remunerar um Serviço Público à sociedade, e sobretudo que exista de facto uma política cultural séria, construtiva, criativa, perto dos artistas e que possa dar ao público a cultura que merece. Tudo isto, iria acontecer num telejornal de grande visibilidade ou audiência para o dito ca-nal, ontem às 19h. Aceitei, claro.
Queria, e quero, dar a cara numa circunstância tão importante e delicada para todos nós, como tenho dado. Cheguei ao estúdio e fui aguardando pela minha vez de entrar em direto. Assisti a uma parafernália de temas importantes, e de menor importância, nacionais e inter-nacionais. Aguardei, aguardei, até que me vieram dizer que afinal não havia tempo. Que afinal o tema futebol tinha ganho protagonismo e que segundo “ordens de cima” (eras tu, Deus? Ou seria um consciente director de programas? Ou um director de informação emocionado com o Bruno de Carvalho ou com audiências? Ou seria o pensamento de ir atrás dos outros canais nas audiências e ratings da vida televisiva?!!!), tinham esgotado o tempo do noticiário. Já não tinham tempo para a Cultura.
Já não tinham tempo para a Cultura, repito.
O Futebol ganhou à Cultura.
Reclamei, evidentemente. Retaliaram desculpando-se, de novo, com as ordens superiores.
Acontece que perdi a possibilidade de estar presente na manifestação e o direito de expor publicamente a minha revolta e indignação, com os meus colegas de trabalho e luta.
Esta situação é paradigmática no que respeita à importância que dão ao nosso trabalho e às nossas reivindicações – os ditos órgãos de comunicação social. Estes que deveriam dar voz, o exemplo da isenção, da crítica livre e plural, aos que querem e têm o direito de falar; para que nos oiçam.
A situação na Cultura em Portugal é grave, urge o reconhecimento do papel das artes e dos artistas na sociedade portuguesa.
Mesmo que nos queiram ignorar, não nos calaremos perante essa obscenidade.
Por fim, deixo aqui duas perguntas aos directores nestes nossos canais de televisão “inde-pendentes” ou não (até rimei), ou aos nossos jornalistas que vão atrás de tudo menos do que de facto interessa para a sociedade onde se inserem:
– É este o futuro que queremos desenhar, criar, inovar e/ou transformar para os nossos filhos?
Sim, sei que têm filhos e que os amam ou não, portanto é fácil, pensem neles.
– Onde está a vossa responsabilidade social, meus senhores?
Assim ficam todos iguais, um horizonte de mediocridade é o que se vê nesta fauna da infor-mação em Portugal.
Hashtag fuckaudiências
(Quase que seria dispensável este “#”, bem sei. Mas, infelizmente, aqui reside o centro da pocilga da comunicação que se diz independente, livre e isenta).
Atrevam-se de facto a ser diferentes.
CULTURA ACIMA DE ZERO, meus senhores!
CULTURA 1%
JÁ!
Atentamente,
Albano Jerónimo
Pintura de James M Rielly
“The Boy With Sad Eyes”
(2018)