Manuel Luís Goucha reage à capa da TV Guia

A edição desta semana da revista TV Guia dedicou quase toda a capa à mãe de Manuel Luís Goucha.

Na chamada de capa nada é explicado, para além da associação das expressões “Manuel Luís Goucha”, “Mãe”, “cancro” e “Solidão”. Embora a peça no interior, se deixe claro que a senhora não está abandonada, a capa poderá levar a segundas interpretações, segundo concluiu o comunicador.

No Facebook, Manuel Luís Goucha faz questão de deixar bem claro que a mãe não se encontra votada ao abandono. «A minha mãe vive em Coimbra porque assim o quer. Está na mesma cidade onde vive um outro filho, nora e netos, que a visitam diariamente», esclarece o apresentador.

A troca de palavras entre o apresentador do “Você na TV!” e a TV Guia já vem de trás e já foi, por diferentes e paralelos motivos, estendida a Cristina Ferreira. «É a capa que faz vender toda e qualquer revista e vindo de quem vem esta não será de estranhar», começa por dizer o comunicador.

Manuel Luís Goucha termina o comunicado em jeito de statement: «Diria mesmo: sei que sou um filho excecional. Não por ser a minha mãe, mas por ser uma mãe que merece que eu assim seja».

Sobre a minha mãe e a propósito desta capa

É a capa que faz vender toda e qualquer revista e vindo de quem vem esta não será de estranhar. Contudo, a reportagem dentro pauta-se por uma informação correcta que não corresponderá ao sensacionalismo da capa. É (quase) sempre assim.

Ao longo da semana que passou remeti-me ao silêncio, perante a insistência dos jornalistas para que comentasse as circunstâncias em que a minha mãe se havia magoado na sua própria casa. Fi-lo por entender que a minha mãe não é um assunto público. Nunca por minha vontade misturei o que entendo como privado com o que tenho como sendo do domínio público ou seja a minha profissão, através da qual me dou aos outros. Mais, não permito que a minha vida privada altere ou prejudique o meu desempenho profissional. Optei antes por este mural, com uma abrangência bem maior da que tem qualquer revista
( perto de 800.000 pessoas, muitas das quais me estimam), para ao dar conta do sucedido não alimentar as especulações que, imediatamente, surgiram. E se o faço, uma vez mais, é porque entendo necessário desmontar os títulos “em caixa alta”, perante quantos levianamente fazem juízos ao lerem uma capa sem que vejam a noticia.

Vamos a isso:

Cancro?
Sim, é verdade. Teve-o, infelizmente, como milhares e milhares de outras mulheres. Foi-lhe detectado há um mês e meio (cancro da mama lobular) e ficou resolvido em duas semanas. Ela própria escolheu a médica (Dra. Maria Gil) e a clínica onde se quis operar, com o pragmatismo que sempre lhe conheci. Fizeram-se todos os exames necessários, nomeadamente uma ressonância magnética, no sentido de se perceber se a outra mama estaria em risco. Numa sexta-feira, pela manhã, foi submetida a uma mastectomia unilateral na Clínica Sanfil, em Coimbra, e nessa tarde, logo após a apresentação do programa “Você na Tv”, estava a seu lado jubilando pelo facto de a ver bem disposta, sem dores, como se nada fosse. Cinco dias depois teve alta e regressou à sua casa, sem necessidade de outro tratamento que não seja o hormonal. Um cancro de mama aos 91 anos, mas também a prova de que o cancro pode morrer em vez de matar.

Solidão?
Em momento algum. A minha mãe vive em Coimbra porque assim o quer. Está na mesma cidade onde vive um outro filho, nora e netos, que a visitam diariamente. Tem a companhia, de manhã à noite, de uma senhora com quem passeia pela baixa da cidade, faz compras, vai ao cabeleireiro, visita as amigas….É ela quem gere o seu tempo e a sua vida, não permitindo qualquer intromissão que seja, mesmo dos filhos. Vem a minha casa quando lhe apetece, não sem antes me advertir que não tolera que eu altere as suas regras.
Confesso que me agrada esta independência e até rebeldia, por nela me rever, e entendo que a devo respeitar e promover o mais possível. Tirar um(a) velho(a) lúcido(a) e autónomo(a) do seu ambiente é “matá-lo(a)”. E esse é actualmente o meu maior dilema: quero-a comigo mas sei que o que ela quer é a sua casa.

Irritado? Eu?
Sim, pelo “circo” montado à volta de um acidente doméstico que outros rotularam de “chamada de atenção”. Chamada de atenção? Porquê? Para quê? ….
Compreendo o interesse de alguns jornalistas, não porque se preocupem minimamente com o estado de saúde da minha mãe ( porque haveriam de o fazer?) mas por tentarem encontrar algo que denotasse negligência da minha parte, enquanto filho. Pelos vistos a tarefa tem-se-lhes revelado muito difícil, pelo que se pode avaliar através das reportagens publicadas com depoimentos de pessoas que conhecem bem a minha mãe e que com ela privam.
Se é verdade que, como ser humano, terei muitas falhas, que aliás procuro trabalhar diariamente, orgulho-me de ser um filho dedicado, atento e presente. Diria mesmo: sei que sou um filho excepcional. Não por ser a minha mãe, mas por ser uma mãe que merece que eu assim seja.

Manuel Luis Goucha