Zapping entrevista: Mateus Solano

Entrevista

Mateus Solano foi, até ao passado dia 20, o Mundinho Falcão de “Gabriela”. Com uma longa carreira feita de teatro, o ator apenas chegou à televisão depois de vários anos de palco. Depois de papeis mais pequenos, o reconhecimento só chegou em 2009 com os gémeos Miguel e Jorge de “Viver a Vida”. Seguiu-se o Ícaro de “Morde & Assopra” e o Mundinho de “Gabriela”.

O ator esteve em Portugal e o Zapping falou com ele.

Esteve em “Gabriela”. Que balanço faz deste trabalho?

“Gabriela” é um dos maiores clássicos de Jorge Amado e de toda a literatura brasileira. Foi um grande prazer fazer parte desta super produção.

Já conhecia o romance?

Não. Na verdade só li o livro quando ficou totalmente fechado que faria “Gabriela” e surpreendeu-me muito. Agora percebo o porquê de ser um ícone. É uma obra maravilhosa. Aconselho a todos.

Viu a versão da novela de 1975?

Não vi. Dei uma espiadinha, mas fiz questão de não ver muito. A tecnologia hoje é diferente, os atores são diferentes. Só a história é a mesma. Ambas foram beber no mesmo local.

Gostou da forma como Walcyr Carrasco [o autor] conduziu esta versão?

A adaptação que o Walcyr fez é completamente diferente da outra de 1975. Há inúmeras personagens que nem existiam, como dona Doroteia. As pessoas que veem hoje também são diferentes, tinha de ter outra abordagem.

Tentou fazer um Mundinho Falcão diferente de 1975?

Não conheci o Mundinho de 1975 (risos). Ah o enquadramento é outro. A realidade é completamente diferente. Para vocês terem uma ideia, em 1975 havia ditadura militar no Brasil, tal como os portugueses também tinham até 1974. O Mundinho era exactamente o contrário. Hoje tudo é diferente. As pessoas nem sabem o que é liberdade porque é adquirida.

Falou com o José Wilker, ator que fez o Mundinho Falcão de 1975?

Troquei umas ideias com ele, mas se você quer saber, não me reuni, não discuti o papel com o José Wilker. Achei que teria de ser diferente. E foi.

Que lhe ensinou este Mundinho?

Que o poder corrompe. Ele era um sujeito muito legal, mas parece que o poder o foi corrompendo. Óbvio que nunca iria usar as mesmas armas (literalmente) que o Coronel Ramiro Bastos [António Fagundes], mas é certo que depois de ter o poder a vida dele mudou. É o que eu acho. No fundo toda a gente gosta de poder.

Como foi ter tanta antipatia com a personagem de António Fagundes que, segundo sei, é um dos seus atores preferidos?

Nem me fale nisso. Foi muito difícil. Eles tinham brigas muito violentas. Eram ditas coisas muito graves. Quando percebi com quem ia contracenar fiquei bem pequenino, mas aí o António tratou de ser um excelente colega.

“Gabriela” foi uma das novelas mais vistas dos últimos anos em Portugal. Tinha essa noção?

Sabia que estava a ir bem de audiência, mas nunca imaginei, por exemplo, que me reconhecessem na rua. Essa novela é quase uma obra de arte. Demos tudo por ela e é muito bom saber que valeu a pena.

O salto da sua carreira em televisão deu-se com os gémeos Jorge e Miguel de “Viver a Vida”. Antes tinha feito só pequenas participações em televisão e muito teatro. Porque chegou tarde à TV?

Quando era adolescente ainda não havia “Malhação” [novela infanto-juvenil]. Estou a brincar. Acho que tudo tem o seu tempo e no meu caso posso dizer que tudo chegou no tempo certo. Fiz muito teatro, que adoro e depois quis tentar a sorte na TV. Foi uma opção.

Foi difícil fazer gémeos?

Muito. Trabalhava o dobro. E não é exagero. Era o dobro mesmo. Mas da primeira vez que vi escrito que havia dúvidas se eu era um ou dois, vi que estava a valer a pena. Era praticamente desconhecido e os espectadores achavam mesmo que eu tinha um irmão gémeo.

Antes de “Gabriela” viveu o Ícaro em “Morde & Assopra”. Gostou?

Ah namorei com duas Flávias Alessandras. Como poderia não gostar? Espero que a minha mulher não veja essa entrevista. A verdade é que era uma novela bem leve e começou no Japão. A evolução foi muito boa. Embora a minha personagem não fosse cómica, gostei muito de fazer uma novela assim.

Primeiro “Morde & Assopra”, depois “Gabriela”, agora “Em Nome do Pai”. Walcyr Carrasco (autor das três novelas) está mesmo no seu caminho…

E não me importo nada (risos). O Walcyr é um génio. Ele mistura drama e comédia numa mesma novela, por vezes numa mesma cena. É delicioso.

Fala-se que vai interpretar um vilão homossexual…

Eu interpreto o que o Walcyr me der. Assino de cruz. A verdade, não sei se já entendeu, é que não posso falar muito do meu papel. Mas sim, vai ter várias facetas e vai ter destaque.

Viveu em Portugal. Guarda muitas recordações?

Eu morei em Lisboa de 1984 e 1986. Tinha uns 3, 4 anos de idade. Tenho as melhores recordações da cidade e adoro cá voltar, é mesmo de coração. Vocês são uns sortudos, têm pasteis de Belém mesmo ao pé e aposto que nem ligam…

O Mateus pratica o judaísmo. É difícil ser judeu no maior país católico do mundo?

Eu sou Judeu na sinagoga do Rabino Nilton Bonder. Não penso que estou num país onde a maioria pensa diferente ou não me sinto diferente. Para mim a religião é muito importante. Importante demais para perder um segundo que seja com discussões religiosas.

Já viu alguma novela portuguesa?

Ver assim todos os dias, claro que não dá. Mas já dei uma olhada. “Dancin’ Days” tem uma ótima cor e do que vi, tem excelentes atores.

Gostava de fazer novela em Portugal?

Adoraria. O maior problema seria deixar a minha mulher e a minha filha durante quase um ano. Aí acho que não iria aguentar. Mas se fosse para fazer uma participação, aí não tinha como recusar caso fosse conciliável.