Morreu o ‘senhor do tempo’: Anthímio de Azevedo – 1927-2014

Faleceu hoje Anthímio José de Azevedo, um dos maiores profissionais portugueses de meteorologia e grande divulgador da meteorologia e da física do clima.

O profissional do tempo passou pela RTP e TVI, sendo um dos rostos mais mediáticos dos espaços de meteorologia. Colaborou pontualmente, nos últimos anos, com todos os canais, comentando notícias do foro meteorológico.

O desaparecimento de Anthímio de Azevedo deixa a meteorologia nacional de luto, e em especial o Instituto Português do Mar e da Atmosfera onde desenvolveu uma grande parte da sua atividade profissional, e onde foi um dirigente relevante.

Por indicação da família solicitamos contudo que a privacidade seja assegurada, neste momento difícil para todos, em que parte aquele que foi para muitos a cara da meteorologia portuguesa.

Nota Biográfica, divulgada pelo IPMA

Anthímio José de Azevedo nasceu em Ponta Delgada, na Ilha de São Miguel, Açores, a 27 de Abril de 1926. Frequentou o Liceu Antero de Quental e a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, onde se formou em Ciências Geofísicas. Meteorologista de profissão, tornou-se um dos rostos mais conhecidos da televisão, tendo dado a cara pela meteorologia portuguesa na televisão pública desde 1 de Novembro de 1964 a 1967, de 1971 a 1977, e de 1981 a 1990, altura em que este serviço foi interrompido pela primeira vez, apesar dos protestos dos espetadores.

Anthímio de Azevedo teve um extenso percurso profissional no Serviço Meterorológico Nacional e no Instituto Nacional de Meteorologia e Geofísica, predecessores do atual Instituto Português do Mar e da Atmosfera. Foi diretor do Serviço Meteorológico da Guiné de 1967 a 1971 e de 1976 a 1977, neste período como perito da Organização Meteorológica Mundial, tendo coordenado a organização do novo Serviço Nacional e a formação dos seus quadros. Foi ainda Delegado Nacional ao Grupo de Códigos da Organização Meteorológica Mundial (1975-1990) e ao Grupo de Meteorologia do Comité Militar da OTAN (1986-1992). O último cargo institucional foi o de diretor do Serviço Regional dos Açores, na sua terra de nascimento e de coração.

Ao longo da sua atividade profissional acompanha a modernização da meteorologia moderna, transformada numa atividade essencialmente assente em observação da Terra, modelação numérica e análise. Numa entrevista dada em Setembro de 2010 considera: “Deu-se um grande salto no tempo de análise e previsão. Quando começamos a trabalhar com análise e previsão por computador, com as observações das 18h TUC tínhamos a previsão, para o dia seguinte, por volta das 04h. Agora, por volta das 04hTUC, temos a previsão para 4 dias e, um pouco mais tarde, para 10 dias e a 30 níveis na atmosfera. Os coeficientes de acerto no Centro Europeu de Previsão a Médio Prazo, que pode orgulhar-se da qualidade das suas previsões em áreas de previsão de outros centros, são de 96 % para 24 h, de 75% para o quarto dia e de 30% para o décimo dia”.

Após a aposentação do serviço público manteve intensa atividade de divulgação da previsão meteorológica, em particular na TVI entre 1992 e 1996. Dedicou-se à escrita e tradução de livros científicos, com foco na meteorologia e climatologia e interesse particular pela ciclogénese, os fenómenos de tempo adverso e a mudança climática. Participou em inúmeras palestras, entrevistas e ações de divulgação, sempre disponível. Anthímio de Azevedo foi durante toda a vida um apaixonado pela Meteorologia, um grande comunicador e um grande profissional.