Polémica: Rodrigo Guedes de Carvalho está indignado com RTP

Rodrigo Guedes de Carvalho

Rodrigo Guedes de Carvalho está «triste» com a RTP e demonstrou este estado de espírito num texto publicado na revista TV Mais.

No seu espaço semanal na pulbicação – normalmente a última página –  o pivô da SIC acusou a RTP de copiar o modelo de promoção que a SIC utiliza nos teasers referentes à “Grande Reportagem”.

O também subdiretor de informação de Carnaxide condena o facto da promoção a ma reportagem da estação pública ser feita nos mesmos moldes que a SIC faz há anos.

Veja o texto publicado na revista TV Mais:

Foi no liceu que ouvi pela primeira vez falar de ética e de estética. É bonito ter valores elevados, como é feio não os ter. Ser bom ou mau aluno depende, naturalmente, de uma predisposição que nasce connosco, mas também da sorte, ou falta dela. Sorte com a escola, e sobretudo com os professores. Há os que podem arruinar-nos o interesse e instalar em nós uma aversão a uma disciplina, e os que fazem exactamente o contrário: são os grandes responsáveis pelo nosso despertar. Tive alguns azares, que por exemplo me arruinaram a Matemática e as Ciências, mas tive sorte a Português. Nos tempos de liceu (a que hoje se chama secundário), uma professora semeou-me o interesse pela reflexão e pela curiosidade, ao ponto de nos falar de noções que só mais tarde saberíamos, a sério, o que significavam, sobretudo quando apareceram as cadeiras ligadas à Filosofia. Foi, pois, nos tempos de liceu, que ouvi pela primeira vez falar de ética e de estética. E nunca mais esqueci que a professora fazia questão de frisar que eram coisas muito diferentes, mas que ela via quase sempre juntas. Na ideia básica que a estética (o belo) caracterizava também o ético (os valores). Parece complicado, mas é tão simples quanto isto: é bonito ter valores elevados, como é feio não os ter. Lembrei-me destas aulas recentemente, e precisamente por um episódio igual ao que vivi então. Alguém foi apanhado a copiar. Ao ler os exames, a professora deu facilmente pela coisa. Dois testes de resposta praticamente igual, sendo que ela conhecia bem o que valiam os dois alunos. Sabia, pois, quem tinha copiado. Ao entregar-lhe o teste, com a devida nota de que dera pela marosca, não fez grandes comentários. Mais tarde, o aluno copião foi ter com ela, cheio de remorsos, a ensaiar uma desculpa. A professora ouviu-o, e não lhe ralhou. Disse-lhe, simplesmente, que aquilo a tinha deixado triste. Tristeza. Era o que lhe suscitava uma falta de ética. Depois desta introdução, vou agora lembrar que o “Jornal da Noite” da SIC iniciou, há quase dois anos, uma linha estratégica de autopromoção de reportagens especiais, nomeadamente da “Grande Reportagem”. Ficou determinado (e assim passou a ser feito) que cerca de uma semana antes da emissão teríamos no ar um teaser, antes de uma promoção mais explicativa. Um teaser pretende deixar alguma curiosidade no espectador, não lhe explicando de imediato o conteúdo do que irá ver na reportagem. Decidimos que começariam sempre por «Grande Reportagem apresenta…», depois um texto que esconde mais do que mostra, e o final «Brevemente, no “Jornal da Noite”». Também aqui, uma lógica de mistério: quando será? Há que esperar para ver. Pois recentemente, estou a ver a RTP, e vejo e ouço «A RTP apresenta…», seguido de texto que esconde mais do que mostra, e o final: «Brevemente, no “Telejornal”». Tive de ver novamente, para acreditar que era exactamente assim, exactamente do princípio ao fim. Primeiro, lembrei-me que deve ser óptimo trabalhar neste sector da RTP: não conheço os seus métodos, mas fica a sensação que não será preciso puxar muito pela cabeça, se se pode simplesmente fazer o que outros canais fazem. Tal como a minha professora, fiquei triste.