Presente nas duas versões, José Wilker fala desta “Gabriela”

José Wilker vai ficar para sempre ligado a “Gabriela”. O ator entrou versão de 1975 e na atual que podemos ver na SIC. E se há quase 40 anos deu vida ao progressista Mundinho Falcão (vivido atualmente por Mateus Solano), nesta versão de 2012 interpreta o tradicional e retrógrado coronel Jesuíno.

À revista TV 7 Dias, o ator confessa que foi bastante estimulante dar vida ao déspota. «O meu primeiro sentimento ao fazer “Gabriela” é que estou a revisitar um grande amigo, num período que foi muito feliz. Agora temos a hipótese de o reencontrar. Na primeira versão fiz o oposto, o Mundinho Falcão. Digamos que o Jesuíno é a vanguarda do atraso. Foi desafiador, estimulante e enriquecedor», contou.

Quando “Gabriela” estreou em Portugal, tornando-se na primeira novela a ser exibida no nosso país, o ator esteve por cá e viveu o sucesso de perto. «Eu estive em Portugal em 1979 e senti na pele o êxito de “Gabriela” na primeira apresentação. Era uma coisa assustadora! Para onde me virava havia uma “Gabriela” e um “Mundinho Falcão”, já que a novela representava um momento político tão difícil para nós e também para Portugal… era um género de líder da novidade».

Crendo que um mesmo sucesso não acontece duas vezes, José Wilker surpreendeu-se. Quando soube que “Gabriela” ia ser reeditada nesta versão não tinha a noção que pudesse representar um êxito tão grande. Pensei que a força da primeira versão ofuscasse o êxito da segunda, mas Jorge Amado merece ser sempre revisitado. Na primeira versão tivemos um manifesto político, e nesta há uma aposta na diversão, mais no riso que no protesto», disse, orgulhoso.

Entre uma e outra versão, a mensagem é a mesma. «É o sinal dos tempos. Lembro-me que nos anos 70 se falasse merda era punido pela televisão e proibido pela censura. Num momento desta novela digo: ‘Deem-me licença que vou cagar’. Isso era absolutamente impossível naquela época, era uma ditadura idiota, mas efetiva. “Gabriela” conseguiu não passar a linha da sensualidade e enveredar na pornografia», explicou.