Quem é quem? Algumas personagens de “Na Corda Bamba”, a novela da TVI

José Brito (Alfredo Brito)

Eu sou o Administrador cá do prédio. Assumi esse cargo desde que me reformei. Maldita a hora… É uma lâmpada para trocar, o elevador que avariou… Dizem que sou um velho rezingão. Pode ser. Depois da minha mulher ter morrido, não ia andar por aí a dançar como o Gene Kelly no “Singing in the Rain”. Lembro-me perfeitamente de quando projetei esse filme no Éden pela primeira vez. Sim, eu era projeccionista… Quando conheci a minha Zélia, íamos para a sala de projeção namorar. O último filme que vimos juntos, antes dela morrer, foi o “Great Gatsby”, com o Robert Redford. Era o galã preferido dela e aqui o palerma tinha ciúmes. Mas eu também gostava da Elizabeth Taylor e ela ficava doida. Sim, ela morreu em 1974. Tinha trinta anos. Foi atropelada no Rossio, em frente à pastelaria Suíça. Os éclairs para o nosso lanche ficaram todos espalhados no chão. Mas a vida continuou. E eu vou conhecer a Milu. Essa maluca vem morar para aqui porque a neta dela, a Sara, divide um apartamento com um amigo aqui no prédio. Vá-se lá perceber… Essa gente com um casarão lá no Restelo e vem despencar aqui no Areeiro. A Milu vai virar a minha vida do avesso. Desde que vi o “Cleópatra”, com a belíssima Liz Taylor, meti na cabeça que queria conhecer o Egipto. Aquelas pirâmides, a esfinge… Ando a poupar há anos para realizar esse sonho. Tenho um baú onde escondo as minhas economias. Agora imagine o meu desgosto quando ele for roubado. Nem calcula por quem nem porquê, mas isso… eu estou proibido de contar. Por essa razão, vou ter de alugar um quarto aqui em casa. O meu inquilino vai ser o Filipe Duarte. Ele é irmão de um morador aqui do prédio. O rapaz estudou cinema e faz aí uns vídeos sem pés nem cabeça. Eu gosto de Felini, ele gosta de David Lynch… O nosso convívio não vai ter um final feliz.

Filipe Fonseca (Afonso Lagarto)

Nova Iorque é a cidade que nunca dorme e eu sou o wanna be cineasta que perdeu o sono. Depois de meses a preparar a minha primeira curta, pouco antes de arrancar recebo a notícia Hiroshima. Está confuso? Eu explico. Deixei Lisboa e fui estudar cinema para a Big Apple. Infelizmente, durante os anos em que estive lá a estudar os meus pais faleceram, no espaço de um ano. O meu irmão Nuno, que sempre trabalhou com o meu pai, assumiu o negócio da família: uma papelaria, daquelas prestigiadas, a maior concorrente da Papelaria Fernandes. Como sabe, as grandes superfícies e os avanços tecnológicos arruinaram este tipo de comércio. Os que ainda sobrevivem estão à beira do abismo. Durante muitos anos, o meu pai e depois o meu irmão enviaram-me dinheiro para eu me manter em Nova Iorque. A fonte foi secando e agora não resta nem um pingo. Adeus Manhattan, adeus curta, adeus sonho. Percebeu agora? Quando regresso a Lisboa, primeiro vou viver com o meu irmão. Ele divide um apartamento com a Sara. Mas esse filme concorrente ao Óscar de melhor drama familiar sobre dois irmãos que se apaixonam pela mesma mulher não vai acabar bem. O meu irmão é um cobarde, preferiu ficar a vender cartolinas e lápis de cera. Agora a frustração não se cala. Por mim, vendíamos o negócio já e ficava cada um com a sua parte. Mas como sem a papelaria ele não é ninguém… Eu quero fazer os meus filmes, ele não a quer vender… Como deve imaginar, a nossa convivência vai ser tudo menos pacífica. Entre a Sara e o negócio, a nossa relação vai chegar a um ponto insuportável.

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