Quem é quem? Algumas personagens de “Na Corda Bamba”, a novela da TVI

Mário Veloso (Nuno Homem de Sá)

Às vezes sou obrigado a fazer coisas pouco ortodoxas. Não que eu me orgulhe disso, mas um homem tem de levar a vida da melhor maneira possível. Como a honestidade não é uma característica das pessoas bem-sucedidas e política nunca foi o meu forte… cometo pequenos delitos. Quem nunca? Com a minha elegância – ok, um pouco desatualizada, mas a roupa fina ‘tá cara – a minha lábia e o meu charme não é difícil ganhar a confiança alheia. O mundo ‘tá cheio de otários disponíveis para serem enganados. Bom, como já sabe, eu fui o segundo marido da Fernanda. Tivemos um casamento como outro qualquer, que só chegou ao fim por culpa da filha dela, a Lúcia. Imagino que queira saber o que aconteceu, mas eu prefiro não tocar nesse assunto. É uma coisa que me tira do sério, faz com que eu me transforme numa pessoa descontrolada… e isso nunca acaba bem. Já que estou a falar na Lúcia e na sua habilidade em usar as pessoas, não é que ela me aparece à porta de casa e me convence a voltar para a Fernanda? A verdadeira razão dela me ter procurado eu só vou descobrir mais tarde. E qual foi? A família andava a vasculhar a vida dela por causa de alguma porcaria que ela fez. A Lúcia sabia que o meu regresso, depois destes anos todos, ia destabilizar tudo. E assim será. A si eu posso confessar: só aceitei voltar para Lisboa porque a Lúcia me disse que a família estava bem, tinham recebido uma herança dos avós dela… A Fernanda agora tem casa própria, um consultório, a minha filha Joana um estúdio de Yoga… Eu vou é facturar com os negócios da família. Quer eles queiram, quer não! Eu tenho esse direito. Afinal de contas, ainda sou casado com a Fernanda.

Malvina Alexandre Cardoso (Maria João Falcão)

Eu sou a melhor amiga da Lúcia. Podia começar a falar sobre a minha vida, mas aposto que deve estar a achar o meu nome completamente estranho. A explicação é simples: como qualquer bom português, a minha mãe adora telenovelas. A dona Conceição não perdeu um único episódio da “Gabriela”. Já percebeu porque é que eu obrigo toda a gente a chamar-me Xana? Voltando à minha vida, que até dava uma telenovela, fui eu quem ajudou a Lúcia a conseguir o seu primeiro filho. Nem se atreva a julgar-me, porque eu fiz isso por uma boa causa. Eu explico: conheci a Lúcia no Alcântara-Mar. Ela trabalhava no bengaleiro, o Pipo era porteiro e eu e a Sara, neta da patroa da minha mãe, frequentávamos a discoteca. Como já sabe, a Sara e o Pipo terminaram e ele começou a andar com a Lúcia. Como a minha mãe trabalha lá na casa da avó da Sara, fiquei a saber que ela estava grávida. Tudo levava a crer que aquela criança só podia ser do Pipo… pelo menos foi o que eu e a Lúcia deduzimos na altura. Ela fez de tudo para que ele nunca soubesse dessa gravidez porque tinha medo de o perder. Os pais da Sara, por razões que serão explicadas mais tarde, decidiram esconder a gravidez da filha, que ainda por cima era menor, e arranjar uma família adotiva para o bebé o mais longe possível de Portugal. Como eu trabalhava na Embaixada da Suécia, não foi difícil encontrar um casal que levasse na bagagem a criança indesejada. No meio dessa confusão toda, a Lúcia convence-me de que o bebé devia ficar era com ela, pois assim ele ficaria com o pai. Eu recusei-me a fazer parte desse enredo surreal, só que a Lúcia tirou o Mestrado em manipulação… Ela garantiu-me que, mais tarde, iria contar toda a verdade ao Pipo. O que não aconteceu. Resultado: vai sobrar para mim.

Conceição Cardosos(Maria Emília Correia)

Tudo o que eu faço é pela minha filha, a Malvina. Ela odeia que a chame assim, mas eu não quero saber. Andei com ela na barriga nove meses, fui eu que a pari, portanto chamo-lhe o que eu quiser. O meu único erro foi ter-lhe posto também o Alexandra, porque agora toda a gente a trata por Xana. Trabalho para a dona Milu há mais de quarenta anos. Sou tratada com muito carinho e respeito, às vezes até me sinto da família. Sou muito grata por me terem oferecido uma casa para viver. Bom, mais à frente, a minha vida vai passar por uma reviravolta. Conhece aquele ditado “a corda parte sempre do lado mais fraco”? Pois é. Por causa do imbróglio da gravidez da Sara, o pai dela, filho da dona Milu, vai querer deixar-me com uma mão à frente e outra atrás. Ficar sem casa e trabalho… O que é que vai ser de mim com esta idade? Se eu não fosse uma pessoa séria, ameaçava contar tudo o que sei. E se me der na telha é isso que eu vou fazer. Sim, porque as empregadas sabem tudo sobre a vida dos patrões. Aqui entre nós, vou dar só um exemplo da quantidade de lixo que os tapetes dessa casa escondem. Está sentado? O falecido marido da dona Milu, que foi casado com ela mais de meio século, com aquela carinha de santo… tinha outra. A dona Milu nunca sonhou, coitada. O pior é que ela conhece a serigaita… volta e meia aparece aqui em casa, com cara de paisagem, como se nada fosse. Ai, Jesus… Não quero estar por perto quando ela descobrir.

Maria de Lurdes Ferraz Nogueira (Lídia Franco)

Uma coisa eu aprendi com a vida: ninguém conhece ninguém. Você pode conviver anos com uma pessoa e não tem noção de quem está ali na cama ao seu lado. Foi uma vida inteira com um marido que me deu tudo. Fui tratada com amor, afecto, amizade… O Virgílio sempre a surpreender-me com flores, jóias, viagens… Por isso é que eu nunca tive coragem de me desfazer das cinzas dele. Tal como da roupa. Cada camisa, cada sapato, cada gravata conta uma história que vivemos juntos. A família nunca aceitou isso, é sempre a mesma coisa. “Isso não lhe faz bem, por isso é que fica triste, desanimada”… Porque é que é tão difícil perceberem que tudo aquilo é o que me resta do Virgílio? Desfazer-me das cinzas significa que não resta mais nada, que acabou. A pressão é tanta que, um dia, eu arranjo coragem. Vou ao roupeiro recolher as coisas dele e encontro num bolso… um papel suspeito. Armada em Sherlock Holmes, descobri o que não queria. O desgraçado tinha outra. Percebeu agora porque é que a vida é um teatro? É claro que eu vou querer saber quem ela é. Se é velha, se é nova, se eu conheço… Pior, se levou alguma coisa que é minha por direito. A partir daí adeus luto! Vou sair de casa e viver com a minha neta Sara. E porquê? Ou era isso, ou demolia a casa. A Sara foi viver para um apartamento meu para evitar a constante avalanche de censuras familiares. Ela é a pessoa certa para me ajudar a soltar as amarras. Resta saber se ela vai ter energia para me acompanhar.

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