Questao Z: O elenco da nova novela da TVI conta com vários atores associados ao cinema. É o fim do estigma associado às novelas?

‘Santa Bárbara’ é o próximo produto de ficção da TVI. Catarina Wallenstein, Joaquim D’ Almeida ou Carloto Cotta são algumas das caras associadas ao cinema português que aceitaram o convite para integrar esta produção. Será este o fim do preconceito que vários atores têm quanto a fazer parte de produtos do género?

Sete é o número de comentadores que temos esta semana. Rui de Sá, comentador residente que participa nesta quarta edição, tem a “companhia” de: Marina Albuquerque, atriz, Manuel Mora Marques, autor da SP Televisão, Victor Espadinha, ator, Luís Gaspar, um das caras do elenco de ‘Santa Bárbara’, onde será Macário. Esta semana agradecemos à H!T Management, que nos trouxe a opinião de Diana Costa e Silva que será Irene na nova produção de Queluz de Baixo. Hugo Bento é o membro convidado desta semana pelo nosso site.

Esta semana, o SIM venceu com maioria de 62%.

Fique agora com as opiniões desta semana:

Rui de Sá

 

Rui de Sá, ator:

“Ator é ator, ponto final. Está no Teatro e representa, é ator; representa no Cinema, é ator; representa em Novela, é ator; interpreta em Dobragens, é ator. Aliás, hoje em dia qualquer um é ator, basta para isso dirigir-se a uma repartição de finanças e colectar-se como tal.
Que poderá ter de extraordinário o elenco da nova Novela da TVI contar com atores associados ao Cinema? Estranho era quando os “comandantes” do Cinema em Portugal, do alto da sua inteligente intelectualidade acharem que o ator de Teatro não podia fazer Cinema. Estranho é ver nas Novelas, pseudo-atores não profissionais na arte de representar. Estranho é criticar-se o Teatro de Revista ou a Comédia e depois ir-se para as Novelas fazer cenas pseudo-cómicas, intitulando-se pseudo-cómicos, tornando-se por vezes não pseudo, mas verdadeiramente ridículos. Na minha opinião não existe qualquer tipo de estigma, existe sim, um chamamento melodioso e harmonioso de cifrões, cantado ao compasso de estou a precisar ou não estou a precisar.
Hoje em dia, o único estigma que encontro associado às Novelas é o de que ator velho ou que já não vai para novo, é ator que não serve… E pelo menos aqui muito ainda temos a aprender com os brasileiros.
Durante os sete anos em que fui diretor de atores das novelas da TVI, nunca nas novelas por mim dirigidas fiz distinção entre ser ator de TV ou Cinema e volto a dizer… Ator é Ator, ponto final… Por isso talvez seja preferível não estigmatizarmos o que de estigma nada tem… Bem isto digo eu… Mas não sei, sei lá…”

 

Marina Albuquerque

 

Marina Albuquerque, atriz:

“Penso que os atores, são atores de tudo: Teatro, Cinema e Televisão! Não devemos catalogar, ainda bem que renovamos elencos, tenho pena que a ficção nacional seja só a novela. É preciso séries, sitcoms, programas de humor, telefilmes… Enfim uma televisão mais parecida com a da Europa a que pertencemos!
Já agora venham ao teatro do Bairro. A partir desta quarta-feira [n.r: 13 de maio], com uma peça escrita exatamente por um realizador de cinema, encenada por mim para o GTN, muitos beijos!”

 

Manuel Mora Marques

 

Manuel Mora Marques, autor da SP Televisão:

“Ora, em relação à vossa pergunta, não é novidade atores com carreiras mais associadas a outras áreas participarem em projetos de ficção televisiva. Lembro-me dos casos da Soraia Chaves em ‘Dancin’ Days’, a Maria João Luís e a Rita Blanco em ‘Sol de Inverno’ e até do Joaquim de Almeida em ‘Rosa Fogo’, atores com carreiras consagradas no teatro e/ou no cinema que entraram em novelas e que com o seu excelente trabalho contribuíram para o fim de um estigma cada vez menos relevante.”

 

Victor Espadinha

 

Victor Espadinha, ator:

“Não fazia a mínima ideia porque não vejo telenovelas. Não por estigma mas porque não tenho tempo. E, à noite, quando chego a casa, mal tenho tempo para ver as series da Fox, “The Good Wife”, ” House Of Cards”, etc. E porque não os actores de cinema fazerem telenovelas? Preferível eles do que modelos e “funcionários” dos lobbies! Actor é actor! E também nunca entendi essa “relutância” em fazer telenovelas. Trata-se de uma representação tipo “montagem de fabrica” mas não deixa de ser trabalho de actor.”

 

Luís Gaspar

 

Luís Gaspar, Macário em ‘Santa Bárbara’:

“Não sei se existe esse estigma em televisão… A existir esse estigma talvez seja num determinado género de teatro em relação aos actores que fazem maioritariamente televisão. Também acho que o cinema que se faz por cá é infelizmente tão pouco, que os actores que têm o privilégio de o poder fazer têm de fazer televisão para poderem subsistir. Este elenco conta com vários nomes de peso sim, mas de actores que na sua maior parte vieram do teatro e penso que todos ou quase todos têm feito regularmente televisão.”

 

Diana Costa e Silva

 

Diana Costa e Silva, Irene em ‘Santa Bárbara’:

“Acho que este estigma tem vindo a enfraquecer já há algum tempo. As produtoras começaram a ir buscar actores de teatro e menos conhecidos do público em geral. Será sempre um ponto forte ter caras conhecidas nas telenovelas para ganhar audiências mas cada vez há mais atores que finalmente conseguem trabalhar em várias áreas sem serem descriminados. No entanto o estigma está longe de chegar ao fim… Continuamos ainda com muitos complexos relativamente a ter atores que são respeitados no teatro ou no cinema a fazerem uma telenovela sem sentirem que se estão a “vender”, a denegrir a imagem ou a desrespeitar a profissão.”

 

Hugo Bento

 

Hugo Bento, Zapping TV:

“Durante muitos anos a TVI foi praticamente a única estação em Portugal a apostar em novelas, conquistando quase um monopólio. Por isso, e pelo número de produções não ser muito elevado, era frequente vermos sempre os mesmos atores a integrarem os elencos das novelas: fossem os já com vários anos de carreira ou os lançados pelo canal. A esse grande grupo de atores que fazia televisão era raro juntarem-se nomes mais ligados ao cinema e até ao teatro, por um determinado preconceito em que este género de ficção era considerado menor.
O que mudou entretanto? O País e o mercado. Com as dificuldades financeiras sentidas em Portugal nos últimos anos, e sendo que a cultura foi uma área bastante afetada, os trabalhos tanto em cinema como em teatro reduziram bastante e as suas remunerações também. Isto fez com que muitos profissionais, por questões de necessidade, cedessem às novelas.
Por outro lado o mercado da televisão e das novelas também mudou. Cresceu e evoluiu. A RTP e sobretudo a SIC (ainda mais agora com duas linhas de ficção nacional) apostaram mais neste género, aumentando o número de novelas em produção e consequentemente o número de colocações de atores. A isso junta-se o facto dos canais e produtoras investirem mais cuidadosamente nos seus produtos, procurando oferecer cada vez melhor qualidade a um público que vai ficando mais exigente. E se a quantidade traz mais atores à televisão, a qualidade também atrai novos nomes.
No imediato estes fatores começam a resultar em algumas mudanças, com a formação de elencos mais variados e com a presença de mais atores desligados da televisão, o que é positivo de assinalar. Se isso é o fim do estigma associado às novelas? Ainda não, mas pode ser que caminhemos para lá a médio ou longo prazo.”

Por esta semana, o Questão Z despede-se mas com a premissa de uma edição especial já na próxima semana. Publicada ao domingo, teremos pelo menos dez comentadores para a reponderem à nossa pergunta da semana: Em vésperas de uma nova edição, o Festival da Canção ainda é um marco no mundo do espetáculo?

Podes dar a tua opinião sobre a questão da próxima semana em: http://forum.zapping-tv.com/t2264-questao-z-edicao-5#319610.