“1986”: Série ganha data de estreia na RTP1

1986 série
“1986” é escrita por Nuno Markl

“1986” começa com a segunda volta das eleições presidenciais decide-se na mais intensa e renhida das lutas do pós-25 de Abril: de um lado, Mário Soares; do outro, Freitas do Amaral. Ambos os candidatos investem tudo numa das mais delirantes e mediáticas campanhas eleitorais da História.

Há hinos pop/rock. Há chapéus de palha para os adeptos do P’rá Frente Portugal de Freitas e autocolantes com sóis sorridentes para os crentes no lema Soares é Fixe.

A esquerda decide unir-se para assegurar a derrota do candidato da direita, o que obriga os comunistas portugueses a engolir o histórico sapo de votar Soares. A hora da verdade chegará a 16 de fevereiro.

No meio deste turbilhão, acompanhamos a mais inesperada história de Romeu e Julieta. Tiago é um jovem solitário de 15 anos, viciado nos filmes que aluga incessantemente no videoclube do bairro. O pai, Eduardo, viúvo, é um crítico de cinema de mau feitio, militante comunista, prestes a cometer o crime do século, vai ter de votar em Mário Soares. Ensina tudo sobre a vida ao seu filho através do cinema, mas também através dos ensinamentos de Marx, os quais não consegue evitar expressar sempre que o filho leva os amigos a sua casa.

Tiago apaixona-se por Marta, uma colega de escola que começa por admirar ao longe no recreio da Escola Secundária. No momento que descobre que ela trabalha no videoclube Hollywood, um paraíso romântico platónico para si, procura aproximar-se para poder comunicar com ela.

Platónico, pelo menos, até perceberem que foram feitos um para o outro, momento em que vivem a sua primeira vez. É depois desse evento histórico acidentado, mas intenso, na casa de Tiago, que Marta despeja o balde de água fria, ao convidar Tiago para um comício-concerto do movimento P’rá Frente Portugal.

Ao contrário de Tiago, Marta foi criada em ambiente de direita, os pais fervorosos militantes do CDS e nostálgicos do Estado Novo.

Como irá Tiago conseguir levar a cabo o malabarismo de manter o seu amor por Marta sem desiludir o pai? E como irão lidar os pais de Marta com a sua paixão por um filho de comunistas?

“1986” é uma série de época, um cruzamento do espírito de produções como Conta-me Como Foi com as lendárias comédias teen de liceu que Portugal nunca teve, mas que nos anos 80 deram origem a clássicos como The Breakfast Club ou A Rapariga do Vestido Cor-de-Rosa, de John Hughes, ou Say Anything, de Cameron Crowe.

A série “1986” traz esse espírito para Portugal, dissecando todo o ambiente de um momento fundamental da história recente nacional que incluiu a entrada do país na CEE.

As personagens vivem num universo que replica as roupas, os sons, as imagens da época. Era uma época em que as tensões políticas chegavam aos recreios das escolas e se cruzavam com as pequenas guerras entre nerds e bullies e com a cultura popular que, feita em Portugal ou importada do estrangeiro, invadia as vidas dos portugueses.

As séries e os filmes que se viam e os discos que se ouviam.

As várias histórias que preenchem a narrativa da série, que acompanha as semanas de campanha eleitoral e culminam no dia das eleições, estão povoadas e protagonizadas por personagens do pequeno mundo de Tiago e Marta: colegas, amigos, pais, professores e até figuras reais da época como os próprios candidatos Mário Soares e Freitas do Amaral (interpretado por atores).

“1986” pretende ser uma celebração cómica do espírito de uma década que não entregou grandes causas aos seus filhos, ao contrário da geração anterior – mas que lhes proporcionou uma juventude delirante e adorável de diversão, maus penteados e êxitos pop irresistíveis de qualidade discutível.

A estreia de “1986” está marcada para 13 de março, às 22h, na RTP1.