“Destinos Cruzados” e “O Outro”, duas novelas com várias semelhanças

O Outro
A TV 7 Dias mostra algumas das semelhanças entre as tramas

“Destinos Cruzados” estreou no passado dia 27 de janeiro na TVI e acumula uma média de 13.4 de audiência e 27.6% de share após 20 episódios emitidos.

Muito se escreveu, sobretudo na internet, acerca das semelhanças entre a história da autoria de António Barreira e algumas novelas brasileiras. Na retina de muitas pessoas está “Cheias de Charme” e “Fina Estampa”. A primeira, que estreia na SIC na próxima segunda-feira conta com Chayene (Cláudia Abreu), uma cantora popular que acaba por ver a sua carreira entrar em declínio. O contraponto seria Liliane Marise (Maria João Bastos), que vive, em “Destinos Cruzados” uma personagem semelhante. Quanto a “Fina Estampa”, os holofotes recaem sobre Crô (Marcelo Serrado), um mordomo assumidamente homossexual que vive amargurado pelas desfeitas da patroa Tereza Cristina (Christiane Torloni). Na novela da TVI existe uma personagem com algumas semelhanças. Vavá (Carlos Areia) é um mordomo, também ele homossexual, que tem se suportar os mandos e desmandos da patroa Teté (Rita Loureiro).

A TV7 Dias desta semana faz um levantamento de algumas parecenças entre “Destinos Cruzados e uma outra produção brasileira: “O Outro”, emitida em 1987 e escrita por Aguinaldo Silva, curiosamente, também autor de “Fina Estampa”.

Ambas as produções exploram um mesmo tema central: Os sósias, duas pessoas iguais fisicamente e a forma como podem trocar de personalidade devido a essas mesmas semelhanças. Aguinaldo Silva explicou na altura que não estava a pegar num tema original, citando “Kagemusha” de Akira Kurosawa, “O Duplo de Dostoievski”, “O Segundo Rosto” de Frankenheimer e “O Terceiro Homem” de Carol Reed.

O autor disse mesmo que “O Terceiro Homem” de Carol Reed serviu de base para escrever “O Outro”. «Um dia estava revendo “O Terceiro Homem”, que eu adoro, cuja história fantástica começa quando um homem, que foi a Viena para o enterro do seu melhor amigo, vê alguns dias depois alguém exatamente igual àquele que tinha visto ser enterrado… E se esse cara da imobiliária começasse a encontrar alguém parecido com ele? E se um homem pobre, de repente, ocupasse o lugar de um homem rico, uma coisa meio para o “Príncipe e o Mendigo”? Assim nasceu “O Outro”».

Já António Barreira confessou, recentemente que a ideia central de “Destinos Cruzados” surgiu quando um amigo lhe disse que tinha estado à conversa com alguém muito parecido consigo fisicamente. «Quando nós temos uma boa ideia há que passá-la para o papel imediatamente, registá-la e mandá-la a quem de direito porque nunca se sabe quando é que entra em linha de produção», referiu, citado pela TV 7 Dias.

“Destinos Cruzados” e “O Outro” têm muitas semelhanças. Embora a novela brasileira tenha como personagens principais dois homens (Francisco Cuoco interpretou ambos) e a portuguesa duas mulheres (ambas interpretadas por Alexandra Lencastre), o princípio é comum. Tanto numa como noutra trama um dos sósias é rico e o outro tem uma vida mais modesta.

No primeiro episódio de “O Outro”, Paulo (Francisco Cuoco) vive sem saber que tem um sósia, Denizard de Mattos (também interpretado por Francisco Cuoco). Os dois encontram-se, por acaso, na casa de banho de uma bomba de gasolina, pouco tempo antes desta se incendiar e explodir. Paulo é, entretanto, resgatado do local do lugar e Denizard acaba por ser confundido com o primeiro homem e passa a ocupar o lugar do empresário. Mesmo depois do segredo ser descoberto, a farsa é mantida por interesse dos adversários, que desejam tomar o poder do sósia. Mas Paulo descobre tudo e, sabendo da troca de identidade, decide tudo fazer para retomar o seu lugar de direito.

Já no caso de “Destinos Cruzados”, Laura (Alexandra Lencastre) rouba a família e foge, mas o carro fica sem gasolina e a vilã tem de ir reabastecer o depósito e é lá que encontra Sílvia (Alexandra Lencastre), uma mulher igualzinha a si e que trabalha na loja de conveniência da bomba de gasolina. Com um assalto ao multibanco pelo meio, dá-se uma explosão e Sílvia é confundida com a milionária, sendo levada no seu lugar para o hospital. A vilã descobre então que a família já sabe que tentou roubar todos e fugir e, ao saber que a inocente Sílvia perdeu a memória, aproveita e troca de identidade com a modesta mulher.

Para além da história central há ainda mais semelhanças, ainda detetadas pela revista TV7 Dias. Em “O Outro”, um dos sósias é casado pela segunda vez com uma mulher, Laura (Natália do Valle), sendo que esta é odiada pela filha do marido que está em vésperas de se casar com um vigarista, João (Miguel Falabella). Em “Destinos Cruzados”, Jaime (Vírgílio Castelo) é casado com Laura (curiosamente, o mesmo nome da personagem da novela brasileira interpretada por Natália do Valle) que tem uma má relação com a filha.

Na trama da Globo exibida em 1987 o outro sósia, Denizard, mora num bairro simples e é dono de um ferro-velho. Já na novela de Antóbio Barreira, Sílvia também mora num bairro popular e a sua família é dona de uma oficina.

Também a governanta da novela “O Outro” faz lembrar um pouco a Isadora (Sofia Alves) de “Destinos Cruzados”. Wilma (Arlete Salles) tem uma ligação muito profunda ao patrão, Paulo e segredo pode ser o motivo da sua austeridade. Também na trama da TVI Isadora tem uma ligação a Jaime.

Os autores já estiveram juntos

TVI
António Barreira foi entrevistado, há meses, por Aguinaldo Silva

Aguinaldo Silva e António Barreira conhecem-se pessoalmente. O autor brasileiro entrevistou o guionista português há uns meses. Na altura escreveu «António Barreira escreveu três novelas – “Fascínios”, “Flor do Mal” e “Meu Amor” – e, já com a terceira, ganhou nada menos que o Emmy Internacional. Dessa forma o novelista português garantiu o prémio, pelo segundo ano consecutivo, para a língua portuguesa, já que o Brasil ganhara no ano anterior com “Caminho das Índias”, de Glória Perez».

António Barreira confessou na altura como tudo começou: «Comecei a escrever profissionalmente em 2003, com a novela “Saber Amar”, após ter ganho um concurso lançado pela então NBP, agora Plural, para a descoberta de novos talentos na área do guionismo. E, desde então, nunca mais parei».

O autor português confessou ainda que “Por Amor”, “Roque Santeiro”, “Tieta”, “A Indomada”, “Selva de Pedra”, “O Clone”, “Celebridade”, “Senhora do Destino”, “Cambalacho” e “A Próxima Vítima” são as suas novelas brasileiras preferidas. Apesar de gostar de muitas obras brasileiras, António Barreira afirmou que «a minha preferida de todas chama-se “Vale Tudo”, cujo sucesso é injustamente creditado só ao Gilberto Braga, quando a novela é uma co-autoria do já citado Gilberto com o Aguinaldo Silva e a falecida Leonor Bassères».

António Barreira revelou ainda ser «totalmente a favor da entrada de pessoas experientes e com know-how sejam elas de que nacionalidade forem. O que importa é que venha gente talentosa, cheia de garra e força, com vontade de fazer mais e melhor. Jamais me esquecerei que um dos grandes impulsionadores da minha estreia a solo foi o meu amigo André Cerqueira, que é brasileiro como toda a gente sabe. Nada contra pessoas doutras nacionalidades, desde que venham com vontade de trabalharmos todos juntos, sem imposições ou sobranceria».

Quanto à melhor novela portuguesa de sempre, na opinião de António Barreira é “Ilha dos Amores”, da autoria da Maria João Mira, que é também a «melhor autora de novelas em Portugal».