Entrevista Hélio Pestana: «Havendo um convite, ponderava regressar à TV»

Hélio Pestana deu-se a conhecer ao país como ator, mas os seus interesses, talentos e projetos vão muito para além da representação ou do entretenimento.
Surpreendeu tudo e todos quando o seu nome apareceu em 79º lugar na lista dos 100 Mais do programa da RTP “Os Grandes Portugueses”.
Mesmo afastado da televisão, o seu nome aida hoje é lembrado. Hélio Pestana apresenta-se nesta entrevista como um livro aberto nos diferentes aspetos da sua vida.

Zapping: Hélio, antes de mais muito obrigado por ter aceitado o convite para esta entrevista.
Destacou-se na segunda série de “Morangos com Açúcar”, brilhou no fenómeno de audiências “Dei-te Quase Tudo” e, aos 22 anos, entrou pela porta grande do Teatro Politeama no mega-sucesso “Jesus Cristo Superstar”. Apesar de todo este êxito, desde o final de 2008 que não lhe são conhecidos trabalhos na área da representação. A que se deve esta ausência?

Hélio Pestana: Desde há algum tempo, e cada vez mais, sentia que a maneira como estava a chegar às pessoas, sendo-lhes apenas um espelho fácil, não correspondia ao exemplo positivo que eu queria dar ao mundo.
Depois de “Jesus Cristo Superstar”, senti ser o momento de fazer uma pausa e refletir, tendo aproveitado a oportunidade para me debruçar mais a fundo sobre os diversos temas que enriquecem a experiência humana e o conhecimento do nosso planeta. À medida que fui obtendo explicações para dúvidas da minha própria vida, o entusiasmo cresceu e fui-me deparando com novas dúvidas e desafios. Percebi ainda como certos aspetos da vida não me tocam só a mim e de que modo pertencemos todos a uma rede de assuntos por resolver, tendo desenvolvido gradualmente o desejo de ajudar também os outros nesta tarefa.
Este período sabático acabou, assim, por se estender por dois anos e meio, findo o qual me ficou a atividade a que atualmente me dedico a título principal, e que, em termos simples, pode ser definida como life coach [“treinador pessoal/terapeuta alternativo”].

Z: Consegue explicar, em termos gerais, o que é um life coach?

HP: Trato dos problemas das pessoas que estão preparadas para receber este nível de tratamento. Há sempre um primeiro momento de entrevista (onde a pessoa expõe o seu caso ou problema) e depois uma fase de libertação, através de meditação aberta ou regressão, e que pode ser acompanhada de toque físico em determinadas partes do corpo, de modo a que a energia flua mais convenientemente.
Podem descobrir mais em: http://vida-evoluida.blogspot.pt/2012/12/opiniao.html ou http://www.youtube.com/user/mestreheliopestana

Z: Apresenta como slogan «Para o ajudar a entender-se a si e ao meio que o rodeia». Trata-se, no fundo, de ajudar as pessoas a encontrar-se a si mesmas?

HP: Sim, terem um espaço, um tempo e uma pessoa que testemunhe o desabrochar da evolução da sua própria qualidade de vida. Nem sempre temos ao nosso lado alguém que nos dê o devido entendimento e a correta parceria para enfrentar os medos, controlar os desejos e equilibrar a vida.
É uma espécie de autoajuda acompanhada, tal como na medicina tradicional. É sempre o próprio e o corpo do próprio que fazem o trabalho todo, eu só existo para facilitar o processo, dar uma mãozinha ou ser o catalisador.
Pode-se dizer que é uma espécie de one-stop-shop de «mente sã em corpo são», ou seja, várias ofertas de serviços um só lugar, todas com o objetivo comum de elevar a qualidade de vida das pessoas.

Z: Voltando agora à sua profissão de ator, como é que a representação apareceu na sua vida? E como é que chegou à televisão?

HP: Fui para o teatro como atividade extracurricular na escola secundária para experimentar algo novo, pois estava a sentir que a escola em si não me estava a dar o que eu achava que os impostos dos meus pais deviam pagar. Então entrei, experimentei e logo percebi que tinha a liberdade de imaginar e espaço para materializar a criatividade que se me estava a tornar cada vez mais evidente. Aí conheci também uma rapariga que me deixou apanhado e, sem saber, me deu a motivação para me profissionalizar.
Cheguei à televisão através de um casting, que mais tarde vim a saber que era para os “Morangos com Açúcar”.

Z: Em televisão, estreou-se, assim, na representação em outubro de 2004, na segunda série de “Morangos com Açúcar”, com um dos papéis principais, Henrique Batista. Como é que foi tornar-se conhecido e ver-se cheio de fãs de um momento para o outro?

HP: Foi estonteante!
A princípio não quis dar muita importância mas depois tive de conseguir lidar com o facto, mas foi bastante difícil. As pessoas só me encaravam como a personagem, o «gajo” que anda lá a comer esta e aquela…» e a «dar porrada em não sei quem». Tive de realçar sempre que uma coisa é a personagem, outra sou eu, Hélio.
Por outro lado, a nível de contacto interpessoal, foi muito bom saber que tantas pessoas gostavam de mim.

Z: Esta mesma série encontra-se atualmente em reposição no canal por cabo Panda Biggs. Como é que é ver-se oito anos depois?

HP: Gosto! Embora seja um pouco desconfortável quando o «Henrique» se envolve intimamente com alguém ou arranja conflitos…

Z: Em 2005, deu vida ao problemático Gonçalo Mascarenhas em “Dei-te Quase Tudo”. Como foi ter de representar, com apenas 20 anos, temas tão pesados como o alcoolismo e a violência doméstica?

HP: Foi difícil, duro mesmo, mas claro desafiante a nível profissional.

Z: Esta novela é bastante conhecida pelos inúmeros acidentes do personagem Rodrigo (Pedro Granger), o primeiro dos quais foi precisamente uma tareia do seu personagem Gonçalo. O que é que envolve exatamente fazer uma cena deste género?

HP: Envolve especial atenção e combinação para ninguém se magoar, mas toda a equipa apoia e cria um bom ambiente para que não seja tão difícil para os atores. O Pedro [Granger] é easy-going e facilitou ainda mais as coisas.

Z: Na fase final da novela, fez par romântico com Daniela Ruah (Rita), que acabaria por se tornar uma das atrizes nacionais mais conhecidas internacionalmente. Como foi trabalhar com a Daniela?

HP: Interessante, ela é uma pessoa dinâmica e com foco.

Z: Depois de “Dei-te Quase Tudo”, foram vários os projetos televisivos a que o seu nome apareceu ligado na imprensa, nomeadamente “Ilha dos Amores” e “Equador”, no entanto tal nunca se concretizou. Havia algum fundo de verdade nestas notícias?

HP: Sim, propuseram-me um papel no elenco fixo de Ilha dos Amores, mas foi-me impossível aceitar por razões pessoais.

Z: Em 2007, integrou o elenco principal de “O Quinto Poder”, série da TV Record. Em que é que este projeto se distinguiu das novelas da TVI?

HP: Olha, para mim, e dito agora, vejo como uma antecâmara de “Jesus Cristo Superstar”. É uma série que trata de temas profundos da história do nosso país e envolve a minha nova área profissional. A minha personagem não vai tão dentro, ficando-se mais pelos aspetos comuns.
Tecnicamente a produção foi muito idêntica: os estúdios, os exteriores, catering, sem horários, pessoal técnico, guiões, etc. A nível de argumento é que foi intrigante, tinha coisas que até eu ficava boquiaberto, mas que não dava importância pois era trabalho, era para fazer.

Z: Pelo que pudemos apurar, esta série ainda não foi emitida em Portugal. Sabe alguma coisa a este respeito?

HP: Sei que a série foi vendida em 60 países, mas ainda não passou na televisão portuguesa.

Z: Além das séries e novelas, fez também várias dobragens, nomeadamente para séries e filmes da Disney, e anúncios televisivos, incluindo para o Banco Montepio Geral, a McDonald’s e a Pizza Hut, e participou em diferentes peças de teatro, entre as quais se destaca “Jesus Cristo Superstar”, de Filipe La Féria. De todas estas vertentes, qual prefere?

HP: Qualquer uma que tenha um conteúdo que me agrade.

Z: A par da representação, o Hélio tem também extensa formação e experiência musical: toca piano e órgão, compõe música e sabe cantar e dançar. Nunca pensou tentar uma carreira no mundo da música?

HP: Já pensei sim, não como carreira mas como algo complementar à minha vida. Cantar é terapêutico.

Z: É claramente multifacetado. A par de tudo quanto já foi acima referido, é modelo, pinta quadros, estudou arquitetura, tirou um curso de instrutor no Centro de Estudos Fitness e frequentou cursos e seminários em áreas tão diversas como Biologia, História, Política, Filosofia, Direito, Energia e Ambiente, Física, Medicina, Sociologia, Religião e Teosofia. De onde é que vem esse interesse por tantos diferentes ramos do saber?

HP: É um holismo que nasceu comigo, digamos assim, gosto de conhecer as diferentes interpretações que o ser humano consegue dar à vida e retirar daí os meus benefícios para construir a minha própria singularidade. O facto de não haver ainda um plano de estudos holístico obriga-me a saltar de área em área e a minha atual atividade profissional necessita delas todas.

Z: Foi considerado uma das 25 pessoas mais bonitas da televisão portuguesa em 2005 e 2006. Considera que a sua aparência lhe abriu portas? Ou, pelo contrário, sentiu uma maior pressão para provar o seu talento?

HP: Considero que quem me abriu as portas fez o possível para equilibrar os dois fatores.

Z: Que tipo de cuidados com o corpo tem atualmente?

HP: Pratico autorejuvenescimento todos os dias, ou seja, uso conhecimentos que adquiri para revitalizar as células do meu corpo, controlando o metabolismo. Este é aliás um dos serviços que ofereço.
De resto, faço exercício físico regular e gosto de dançar de vez em quando. Como equilibradamente, embora não faça da alimentação uma ditadura.

Z: Se recebesse um convite aliciante para regressar à televisão, aceitaria?

HP: Sim, penso que sim.

Z: Se pudesse escolher, que tipo de projeto televisivo gostaria de integrar?

HP: Tendo oportunidade de escolher, gostava especialmente de fazer parte de um programa com uma forte vertente de espiritualidade, educação, saúde, bem-estar, qualidade de vida.

Z: E a nível de representação, aceitaria regressar? Em que termos?

HP: Havendo um convite, sim, iria ponderar e poderia aceitar, dependendo do personagem, do texto e também da remuneração. Essencial para aceitar um trabalho como ator neste momento seria de facto ter um texto que me agradasse mesmo.

Z: Em 2006, participou na segunda série de “Dança Comigo” da RTP1. Atualmente estão em voga os formatos com celebridades na televisão portuguesa, com programas como “Big Brother VIP”, “Splash! Celebridades” ou “Dança com as Estrelas”. Aceitaria participar neste género de programas?

HP: Só em concreto poderia responder sim ou não. Dependeria sempre do conteúdo do programa e das condições.

Z: Como é que vê a televisão que se faz atualmente em Portugal?

HP: Equilibrada, na medida das audiências que pode e precisa de ter.

Z: Ainda é muito reconhecido na rua?

HP: Sim, embora agora um bocadinho mais pela calada. Mas sim, vejo que as pessoas ainda se lembram da minha cara.

Z: E ainda o abordam?

HP: Sim, também. Às vezes, os mais novos fazem-me entrevistas e assédios na rua, ao passo que os mais adultos acolhem-me com saudosismo.

Z: O que é que mais critica, ou que é que gostava de ver mudar mais urgentemente, na sociedade portuguesa?

HP: A educação! Ficaria muito agradado se toda a população tivesse educação de qualidade. Certamente a economia já se encontraria num patamar mais favorável, incluindo para as minhas ideias.

Entrevista de Joel Santos
Revisão de Pedro Pinto e Margarida Costa