Morreu a atriz Fernanda Lapa [1943-2020]

Fernanda Lapa
Fernanda Lapa [1943-2020]

Morreu a atriz Fernanda Lapa, pioneira da encenação no feminino e defensora de um teatro que provoque o público.

A artista estava internada no Hospital de Cascais. Dirigia a companhia Escola de Mulheres desde 1995 e tinha 77 anos.

A atriz, encenadora e professora Fernanda Lapa, figura marcante da representação em Portugal para quem o teatro deve para criar beleza, provocar o público e fazer perguntas sem dar respostas, morreu esta quinta-feira em Cascais, onde estava hospitalizada, anunciou a companhia de teatro Escola de Mulheres. «É com profundo pesar e imensa tristeza que a Escola de Mulheres comunica a morte de Fernanda Lapa, diretora artística desta companhia desde a sua fundação, em 1995», escreveu a companhia num comunicado à imprensa.

Ao longo de quase 60 anos de vida profissional, Fernanda Lapa tornou-se uma figura de referência pela forma inovadora de fazer teatro. Influenciou gerações de artistas e manteve uma atividade cívica constante na defesa de direitos das mulheres e na reivindicação de condições de trabalho para os criadores portugueses.

Trabalhou textos de Almada Negreiros, Jean Cocteau, Eurípides, Strindberg e Bernardo Santareno, entre outros, e revelou em Portugal autoras como Caryl Churchill, Paula Vogel e Timberlake Wertenbaker. Dirigiu nomes fortes do teatro como Maria José, Lourdes Norberto, Lia Gama, Rui Mendes, Glória de Matos, Sinde Filipe e Cucha Carvalheiro, entre muitos outros, e colaborou em criações do coreógrafo Francisco Camacho. “Exijo muito dos atores. Não é fácil, sou uma chata”, disse em janeiro último, em entrevista ao Observador.

Várias vezes premiada, incluindo com a Medalha de Mérito Cultural do Ministério da Cultura em 2005, continuava no ativo e coordenava até agora as comemorações do centenário do nascimento do escritor e dramaturgo Bernardo Santareno, que se assinala em 2020 e de quem a Escola de Mulheres vai levar a cena, previsivelmente em novembro, a obra O Punho, com versão cénica da própria Fernanda Lapa. Em janeiro tinha estreado no Teatro Municipal São Luiz, em Lisboa, a peça Sem Flores Nem Coroas, de Orlando Costa (pai do atual primeiro-ministro, António Costa, e amigo de longa data de Fernanda Lapa). Foi a última criação que levou a cena em vida.

Com uma carreira ligada também à televisão, Fernanda Lapa chegou aos espectadores deste veículo em 1969 com o telefilme “Caixa de Pandora”.

Do currículo televisivo destacam-se, nos últimos anos, “Vingança” (SIC), “Lusitana Paixão”, “O Processo dos Távoras”, “Ballet Rose – Vidas Proibidas” (RTP), “I Love It” ou “A Impostora” (TVI).