QUESTÃO Z: RTP, SIC e TVI pretendem incluir mais séries na sua programação. É este o melhor caminho para a ficção nacional?

Questão Z

Esta semana voltamos ao mundo da ficção nacional. Os três principais canais generalistas portuguesas deram recentemente a entender que irão incluir mais séries nas suas respetivas programações. É este o melhor caminho para a ficção nacional?

Para responder e analisar a questão temos três reconhecidos atores (Rita Lello, Alexandre Ferreira e Maria Tavares) e um membro do nosso fórum, Margarida Costa. Vejamos se esta iniciativa por parte dos canais portuguesas é bem vista ou não.

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Rita Lello (atriz):

Recentemente fomos informados pelos responsáveis pelas programações dos três canais nacionais, público e privados, que a aposta para o futuro próximo se centrará no incentivo aos formatos nacionais, à produção nacional e a uma forte investimento na produção de documentários e séries de ficção dita de qualidade assentes em temáticas que digam respeito aos portugueses, à sua História, ao seu Pais e à sua Cultura.
As notícias são como é obvio muito positivas. Fazer crescer a industria da ficção nacional é uma mais valia para o país em termos de impacto internacional e um passo importantíssimo para os profissionais do sector quer na óptica criação de emprego, quer do ponto de vista do incentivo à criatividade, ao amadurecimento e ao crescimento. Além disso a aposta na qualidade numa época de crise é fundamental para a auto estima dos portugueses que podem, enquanto público, rever-se em produtos em que necessariamente terão orgulho.
Há contudo um senão nestes discursos e ele é infelizmente transversal aos vários canais e à forma como as notícias passam cá para fora. Por sistema quando se fala em qualidade e incentivo à produção nacional surge a ideia associada – e embora se sinta mais quando se fala na RTP, ela começa também a surgir associada aos canais privados – de que a produção de qualidade é antagónica à preocupação com as audiências. Tenho pena que assim seja e não creio que um produto televisivo de qualidade seja incompatível com o agrado do público e consequentemente com bons resultados na audiometria, pelo contrário.
Devemos antes trabalhar para que a qualidade venha, como deve vir, associada ao prazer da fruição do produto pelo espectador, e esse processo começa desde logo por um esforço no sentido de erradicar na raiz a ideia de que qualidade é sinonimo de tédio ou hermetismo, mas também se faz com motivação, com um discurso positivo que não peça desculpa por ter como objectivo a qualidade dos produtos, mas antes defenda que uma produção de qualidade é um direito, um direito que fará de todos nós melhores portugueses e da nossa televisão uma melhor Televisão.

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Alexandre Ferreira (ator):

Se estivermos a falar de séries nacionais, escritas, realizadas e interpretadas por malta «da casa» acho uma muito boa decisão. Sinto também que a RTP não pode (e acho que é essa a direcção em que vai esta nova direcção) estar a competir com os canais privados, que têm outros interesses. Agora, não podemos criar mais do mesmo estafado modelo novelesco e chamar-lhe série. Uma série é outra coisa. E seria bom ver séries a falar de problemas reais, concretos. Há tantas boas histórias que nos aparecem diariamente nas notícias que poderiam ser muito bem dramatizadas e que nos dariam um outro olhar, mais perto, que nos permitissem entender melhor, dar-nos outros pontos de vista sobre a vida que levamos, sobre para onde queremos ir. Acho que isso sim, seria um belíssimo desafio para os canais de televisão. Mas acho também que esta aposta não se devia restringir aos canais generalistas. Vemos que lá fora, é nos canais por cabo que começam as melhores apostas em termos de arrojo de séries. Sei bem que por cá não temos os mesmos orçamentos, mas sempre eu ouvi dizer que se queres 500, tens pelo menos que investir 100. E que se se pagam amendoins, obtêem-se macacos, portanto, creio também ser necessária uma outra visão estratégica de procura de qualidade acima de tudo. E creio que só o tempo e o dinheiro a podem permitir.

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Maria Tavares (atriz):

Se as séries forem portuguesas e de qualidade será um bom caminho. Seria ainda melhor se contratassem verdadeiros artistas e não figuras públicas, modelos, jovens à procura de fama e outros quejandos, e os artistas sem trabalho. E mais, são sempre os mesmos a fazerem tudo.

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Margarida Costa (membro do Zapping):

Para mim é, sem dúvida, o caminho a seguir. É preciso é que não confundam novelas com séries. Acho que o ritmo de uma série é muito mais agradável de seguir e manter o interesse. Pessoalmente, perco grande parte do interesse a meio das novelas, quando aquilo anda parado e não avança para lado nenhum. Numa série é diferente, há sempre coisas a acontecer, histórias a contar, personagens que entram e saem sem deixar um buraco na história… Enfim, é um ritmo totalmente diferente e que, se a história for boa e bem conduzida, muito fácil de agradar e manter o público fiel. Mas por falar em público, temos de ter a noção de que o público português está muito habituado ao formato novela (apesar de se notar o desejo por algo diferente), por isso a aposta em séries deverá ser gradual, passo a passo.