[Raio Z] Entrevista a Carla Chambel: “‘Beirais’ é muito especial, de facto.”

Integrou o elenco de novelas como ‘Jura’ ou ‘Vingança’ e protagonizou ‘Resistirei’. Numa altura em que dá vida a Marina em ‘Bem-Vindo a Beirais’, Carla Chambel falou ao Zapping sobre esta personagens e sobre o ambiente que se vive em ‘Beirais’.
Divertida e alegre, a atriz mostra-se feliz com a nova fase da sua carreira e não se esqueceu de dar “um beijinho” aos nossos leitores.

Conheça Carla Chambel em mais um Raio Z!

Zapping: Está a gravar a série ‘Bem-Vindo a Beirais’. Como têm corrido as gravações da série que já é um sucesso?
Carla Chambel: Esta série começou por ser um projeto de três meses que, neste momento, completou um ano de gravações. A equipa entrosou-se muito bem desde início e todos sentimos uma grande motivação por começar um projeto de raiz, bem português. O Manuel Amaro da Costa, diretor do projeto, e o Bruno José, diretor de produção, imprimiram desde cedo esta noção da pequena comunidade que é no fundo uma família. Esse conceito rapidamente passou dos personagens para os atores e restante equipa, e o espírito de entreajuda e camaradagem está patente todos os dias em plateau. Por outro lado a aceitação do público, que se reflete nas audiências, aliada a uma exibição no horário nobre da RTP, fez com que este projeto crescesse muito rapidamente, o que nos dá uma motivação redobrada por este reconhecimento quase imediato do nosso trabalho. Não posso esquecer o feedback que temos tido igualmente das comunidades portuguesas além-fronteiras, o que demonstra o quão as pessoas se identificam com este tipo de linguagem, muito próxima das suas vidas ou das suas memórias.

Z: As gravações duram há um ano e a série já foi renovada para a quarta temporada. Não sente algum desgaste?
CC: ‘Beirais’ é muito especial, de facto. Vive de boa disposição, de espírito positivo, de episódios loucos e de histórias comoventes. Tudo isto nos contagia. Os atores entregaram-se de corpo e alma. Alguns de nós estavam fora do pequeno écran já há algum tempo, onde eu me incluo, por isso chegámos com todo o fôlego. Geralmente as séries têm protagonistas, e aqui não é exceção, mas isso implica que costuma ser quem tem planos de gravação mais pesados. Contudo, como esta série está estruturada com episódios fechados, por vezes os protagonistas do episódio passam a ser qualquer um dos outros personagens da aldeia. Assim, vemos o trabalho bastante distribuído e o elenco fixo vai-se revezando entre períodos mais intensos e outros mais leves. Por outro lado, a estrutura da série vai-se renovando com a entrada de novos personagens e já é praxe da casa recebê-los com a famosa frase: Bem-vindos a Beirais!

Z: Como descreve a sua Marina?
CC: A Marina nasceu e cresceu em Beirais. É uma mulher da terra, simples, simpática, uma cozinheira de mão cheia, que trabalha na sociedade recreativa da aldeia. É uma espécie de anfitriã da terra, visto que é normal os visitantes dirigirem-se ao café para pedirem informações. Ela é uma mulher que viveu algumas perdas, mas isso não a amargou. Fez dela uma mulher mais forte. Perdeu os pais cedo, por isso, ela e o seu irmão Xavier, foram criados pelo avô, com quem vivem. Perdeu o marido bastante nova, pouco tempo depois do filho Pedro nascer, e durante muito tempo viveu para o trabalho, único sustento da família.

Z: A Marina viveu uma situação invulgar ao apaixonar-se por um padre. Como se preparou para esta mudança? Chegou a contatar com algum caso real?
CC: Esta relação nasceu de uma amizade e de um grande respeito e admiração entre os dois personagens. A vida reservou à Marina um novo amor, que a princípio lhe parecia inatingível. Por um lado eu senti que ela merecia essa oportunidade, mas por outro lado era complicado lidar com os seus valores, sem parecer apenas uma fraqueza ou uma loucura da sua cabeça. A surpresa foi ver esse amor retribuído e depois de alguns obstáculos, o Luís renunciar ao sacerdócio para casar com ela. Contudo, foi duro ele ter abdicado de um amor para seguir o outro e estes não serem compatíveis. Este amor puro, romântico, baseado na confiança e no respeito, julgo ter sido o segredo para que esta relação fosse bem aceite pela aldeia e até pelo público. Fiquei muito feliz com os comentários no Facebook, a torcer para que ficássemos juntos. Toda a equipa, desde argumentistas, realizadores, e eu e o Nuno Janeiro tivemos sempre muito cuidado para que esta relação seja fruto de um amor verdadeiro e que, portanto é tão cristão como outro qualquer. Não procurei nenhum caso real, mas rapidamente comecei a receber mensagens no FB onde partilhavam comigo histórias verdadeiras e com resultados felizes.

Z: ‘Bem-Vindo a Beirais’ marcou o seu regresso à televisão depois de algum tempo afastada. Sentiu que a Marina era o género de papel que queria fazer nesta fase da sua vida?
CC: Sem dúvida. Esta personagem tem uma energia que me alimenta, que me renova dia-a-dia. Gosto deste lado dela da terra, que gosta das tradições, que gosta de se divertir. Faz-me lembrar a minha avó materna, que era assim decidida, deitava a mão ao trabalho sem medo e que teve, em tempos, uma taberna na terra e um restaurante em Lisboa, onde cantava o Alfredo Farinha. Na relação da Marina com o filho lembro-me muito da relação que a minha mãe tinha comigo quando eu era pequena. Por isso esta personagem é também uma viagem às minhas raízes.

Z: Está agora a ser transmitida a terceira temporada. O que podemos esperar de ‘Beirais’ e da Marina?
CC: Ora, a Marina casou-se com o Luís. Portanto há a entrada de um novo homem para a família. Para o filho Pedro há uma figura paterna agora presente e para o avô Benjamim há mais um homem com quem dividir o espaço e decisões. Claro que isto vai dar alguns mal entendidos mas também momentos de grande ternura e coesão familiar. A Marina vai ser, por vezes, uma mediadora dos conflitos. Mas também vão passar por Beirais mulheres bonitas e isso vai revelar o lado mais inseguro da Marina, demonstrando muitas vezes ciúmes de cada vez que o Luís olha para elas, dando origem a episódios bem divertidos. Também vai ser de vez em quando a babysitter das gémeas da Nazaré e do Carlos, sendo posta à prova a sua experiência como mãe.

Z: A SIC voltou a exibir recentemente a novela ‘Vingança’, a Vera veio ocupar o lugar da Vitória, personagem da Maria Rueff que foi afastada da trama. Estava previsto desde o início que participasse na novela?
CC: Quando começaram as gravações da “Vingança” eu ainda estava a terminar as gravações da série “Jura” e, portanto, era impossível entrar na novela, uma vez que os visuais das personagens eram radicalmente diferentes. Só quando terminei é que recebi o convite para fazer a Vera. Entrei a partir do trigésimo episódio.

Z: A Vera era uma médica com uma carga emocional muito forte e uma história de vida dramática. Como foi viver esta personagem?
CC: A Vera era uma mulher determinada. O que a movia era encontrar o irmão que tinha perdido desde cedo e que não conhecia. Procurava pistas e encontrou no Santiago (Diogo Morgado) e mais tarde no Ventura (Rui Luís Brás) os aliados perfeitos para a sua demanda. Em troca era uma conselheira fiel, fragilizada por se ter apaixonado por Santiago, e, mais tarde, uma protetora de Laura (Lúcia Moniz) quando descobre que ela é afinal a sua irmã. As cenas tinham sempre uma carga emocional muito forte e a linguagem de realização do Rodrigo Riccó e do Paulo Rosa era bastante intensa. Isso fazia com que todos, equipa técnica e atores, estivessem totalmente envolvidos e entregues. Cada reação, cada lágrima e até arrepio da pele eram captados pela lente.

Z: As repetições da TV causam muitas vezes o desgaste da imagem de um ator. Sente que as repetições podem ser um prejuízo para os atores?
CC: Ainda agora está a repetir na SIC Internacional a outra novela que fiz “Resistirei”. Mas julgo que não. As repetições nunca estão em horário nobre, por isso não colidem diretamente com o trabalho atual. O que pode ser um prejuízo para o ator é repetir o mesmo tipo de personagem. E, por vezes, quem decide tem dificuldade em olhar para o ator em papéis opostos. As mudanças de visual, de tipo de linguagem, até de canal são fundamentais para o público se distanciar e continuar a acreditar no que vê. Para além de que temos direitos conexos a receber por cada repetição, embora ainda nem todos os canais cumpram a lei.

Z: Na novela ‘Jura’ teve várias cenas de nudez. Como encarou esta situação? Sente que hoje em dia a ficção tem uma necessidade exagerada de expor os atores?
CC: Na minha opinião a ficção só expõe os atores quando não os respeita. Por isso, quando fiz o “Jura” senti que estávamos protegidos, tínhamos uma equipa que nos defendia, que estava connosco e que nos respeitava. As situações de nudez eram feitas com cuidado mas também suscitaram muitos risos durante as gravações. A mosca que pousou no ombro ou o fecho do vestido que prendeu e por isso tem que se cortar. As cenas estavam contextualizadas nas histórias íntimas dos casais que íamos acompanhando e, por esse, motivo não senti que a exposição fosse gratuita. Tive consciência que podia ser facilmente criticada por aceitar aquele papel mas fui surpreendida pela reação do público que, muitas vezes, vinha partilhar comigo as suas histórias, angústias e que se revia no que a novela mostrava.

Z: Perguntas Rápidas:
Maior Vício… não conseguir deitar nada fora.
Livro… “Ignorância” de Milan Kundera
Filme… “O Meu Tio” de Jaqques Tati
Música… “O Gomo da Tangerina” do Sérgio Godinho
Série… “Cosmos” de Carl Sagan
Na TV não dispenso… gravar os “Beirais” e ver sempre que posso
A pessoa que mais admiro é… pai e mãe. São indissociáveis.
Não vivo sem… me emocionar
Não saio de casa sem… sapatos confortáveis
Um dia corre bem quando… vou buscar o meu filho à escola.

Z: Pergunta Final: A sua vida dava uma novela? Porquê?
CC: De todo. Não sou rica, nem pobre. Tenho uma família feliz, que se dá bem, sou realizada, tenho amor, tenho trabalho. As pessoas iam aborrecer-se.

Entrevista de Ricardo Neto
Revisão de Margarida Costa