[Raio Z] Entrevista a Maria Vieira: “Acho que a arte não deve ser julgada em pódios, pois não deve ser encarada como uma competição!”

Nascida a 2 de março de 1957, Maria estreou-se no extinto Teatro Adóque.
Conhecida, hoje em dia, como uma das maiores humoristas portuguesas, Maria Vieira conta com várias participações em séries e filmes de renome.
‘A Gaiola Dourada’, ‘Pensão Estrelinha’, ‘Herman SIC’, ‘Negócio da China’, ‘Aquele Beijo’, entre tantas outras produções, compõem um currículo extenso e variado daquela que é apelidada por muitos de “parrachita”.

Divertida e animada, é Maria Vieira em mais um… Raio Z!

Zapping: Está atualmente no ar na série da RTP, ‘Os Filhos do Rock’. Como foi integrar este projeto?
Maria Vieira: Foi como um prazer elevado ao quadrado. “Os Filhos do Rock” é uma das melhores séries exibidas na televisão portuguesa, nos últimos anos, e fazer parte do elenco da mesma é um privilégio para qualquer ator.

Z: A série passa-se nos anos 80. Teve de fazer algum trabalho de composição para a sua personagem?
MV: O ator é, antes de mais, um observador. As pessoas reais e as suas vidas genuínas servem sempre de inspiração à criação dos meus personagens, sobretudo neste registo dramático que me propuseram em “Os Filhos do Rock”. Eu observo, absorvo e tento recriar aquilo que vejo nos outros; essa é a minha profissão.

Z: A RTP tem apostado cada vez mais nas séries. Acha que são um formato muito mais apelativo quer para público, quer para os atores?
MV: Eu gosto de ver séries de qualidade e, como atriz, prefiro fazer esse tipo de trabalho a qualquer outro, mas a ficção é sempre fundamental em todas as suas formas, por isso seja em formato de séries, novelas ou sitcoms a ficção é sempre bem vinda

Z: Ganhou recentemente o prémio Lumen de Humor na Gala da RTP. Como foi receber esta distinção?
MV: Eu acho que a arte não deve ser julgada em pódios como, por exemplo, o desporto, pois a arte não deve ser encarada como uma competição. Mas reconheço que os prémios têm, no entanto, o mérito de distinguir o bom trabalho dos atores, de todos eles, tanto aqueles que os ganham hoje, como aqueles que os ganharão amanhã… Mas é claro que me senti muito grata e muito feliz pelo reconhecimento do meu trabalho. Se lhe dissesse o contrário, estaria a mentir.

Z: Sente que as pessoas ainda olham para si como a “parrachita”?
MV: Espero bem que sim! A “Parrachita” foi um “nickname” inventado por mim para compensar a dificuldade que eu tenho em memorizar o nome das pessoas; com o passar dos tempos, eu própria virei a “Parrachita” e, hoje em dia, até o público em geral me trata por essa carinhosa alcunha.

Z: Olha para o Herman como um exemplo?
MV: Eu olho para o Herman como um colega de profissão com quem trabalhei alguns anos e com o qual fiz alguns dos mais importantes e memoráveis programas na televisão portuguesa, e neste caso estou a lembrar-me, por exemplo, de “Humor de Perdição”, “Casino Royal” ou “Crime na Pensão Estrelinha”. Ao longo da minha carreira tenho trabalhado com gente tão talentosa e distinta como o Miguel Falabella, o Mário Viegas, o Carlos Avilez, o Filipe Lá Féria, o Fernando Gomes, o Rúben Alves, entre muitos outros; o Herman, obviamente, faz parte desse grupo de gente especial com quem tive o privilégio de trabalhar.

Z: Fez parte de duas produções da Rede Globo, a maior produtora de novelas do Brasil. Como foi essa experiência?
MV: Eu fiz duas novelas na Rede Globo: “Negócio da China” em 2008/09 e “Aquele Beijo” em 2011/12. A Globo é a terceira maior estação de televisão do mundo e é a maior produtora de novelas do planeta. Trabalhar naquela estação, com aqueles atores que são conhecidos e respeitados um pouco por todo o mundo (é preciso não esquecer que as novelas da Globo passam em mais de 80 países), é um privilégio muito especial e é algo que qualquer ator gostaria, um dia, de alcançar. Sou reconhecida e respeitada pelo povo brasileiro, fui 3 vezes premiada com a famosa “Nota 10” da Patrícia Kogut, do Jornal “O Globo”, por isso, para mim, trabalhar na TV Globo, foi das melhores coisas que poderiam ter acontecido na minha carreira profissional.

Z: Trabalhar no estrangeiro é um projeto a curto prazo?
MV: Recentemente fiz um filme francês – “A Gaiola Dourada” – que foi um dos maiores sucessos europeus dos últimos 10 anos, tenho, como já referi, um percurso profissional significativo e muito bem sucedido no Brasil e, obviamente, continuo empenhada na minha carreira internacional. Até porque o mercado nacional é muito reduzido e como tal é preciso aproveitar todas as oportunidades que nos chegam de além fronteiras.

Z: Já terminou as gravações de ‘Os Filhos do Rock’. Já tem um novo projeto em televisão?
MV: Para já, e no que diz respeito ao teatro, continuo no Politeama, com “A Grande Revista À Portuguesa”. Antes do verão começarei a rodar dois filmes: um brasileiro – “Caiu Na Rede É Peixe” – dirigido pelo André Pellenz, onde irei contracenar com atores muito prestigiados no Brasil, como o Fernando Caruso, o Victor Sarro e o Cláudio Torres Gonzaga; e outro português, do jovem realizador André Badalo, onde serei uma das protagonistas. Na televisão existe um projecto do qual ainda não posso falar porque nada está definido…

Z: Perguntas Rápidas:
Maior Vício… não tenho vícios
Livro/Filme/Música/Série Favoritos… “o Jardim dos Perversos” de Fernando Rocha, que por acaso é o meu marido! Mas só por acaso… / “Confortably Numb” dos Pink Floyd / “Os Filhos Do Rock”
Na TV não dispenso… na TV dispenso quase tudo!
A pessoa que mais admiro é… o meu pai.
Não vivo sem… o meu cão.
Não saio de casa sem… roupa!
Um dia corre bem quando… estou numa ilha tropical, algures na Tailândia, na Malásia ou na Indonésia, a fazer mergulho, ou a ler um livro à sombra de um coqueiro, enquanto beberico uma Margarita na companhia do meu marido e… Do meu cão!

Z: Pergunta Final:
A sua vida dava uma novela? Porquê?
MV: A minha vida dava uma novela brasileira porque novela portuguesa eu nunca fiz…

Entrevista de Ricardo Neto
Revisão de Margarida Costa