[Raio Z] Entrevista a Miguel Rocha Vieira: “Sou exigente comigo mesmo, com aquilo que faço e com as pessoas que colaboram comigo.”

Formado na escola de cozinha Cordon Bleu, Miguel Rocha Vieira abriu o Costes Restaurante, na Hungria, onde já ganhou 5 estrelas Michelin.
Neste momento, é jurado do concurso de culinária da TVI, MasterChef.
Hoje submete-se ao Raio Z, numa entrevista onde fala da sua profissão, do seu percurso pessoal e da sua experiência no concurso do quarto canal.

Zapping: Para começar, quem é o Chefe Miguel Rocha Vieira?
Miguel Rocha Vieira: Nasci em Lisboa, mas foi em Cascais que cresci e onde passei a minha infância e quase toda a minha adolescência.
Em 1999, e uma vez acabado o 12º ano tive, a oportunidade de continuar os meus estudos em Inglaterra. Depois de alguma hesitação acabei por me matricular em gestão hoteleira, pois achei que, uma vez que terminasse o curso e se um dia voltasse a Portugal, sempre seria mais fácil encontrar emprego, visto que vivemos bastante do turismo. No segundo ano deste mesmo curso uma das disciplinas era cozinha e foi nessa primeira aula que tive a sorte de descobrir aquela que, acredito, seja a minha vocação. Nesse mesmo dia, ao chegar a casa comecei à procura de escolas de cozinha e umas semanas mais tarde estava matriculado numa das mais conceituadas escolas de cozinha do mundo.
Depois de Londres fui para França e, mais tarde, para Espanha, procurando sempre trabalhar com pessoas que, de uma maneira ou de outra, me eram inspiradoras e, ao mesmo tempo, me deixassem evoluir como cozinheiro.
Em 2008, senti-me preparado para “voar sozinho” e foi em Budapeste que encontrei essa oportunidade.
Abri o Costes Restaurante no dia do meu 30º aniversário e, pouco mais de 1 ano depois, foi-nos atribuída 1ª estrela Michelin. A primeira alguma vez dada a um restaurante na Hungria e, a qual, temos conseguido manter desde então.

Z: De onde surgiu a sua paixão pela cozinha?
MRV: Curiosamente na universidade. Até essa primeira aula de cozinha, no curso de gestão hoteleira, comer para mim era só mesmo por necessidade e cozinhar, mesmo um simples ovo estrelado, era algo bastante complicado.
É difícil expressar sentimentos, mas o que senti nessa primeira aula de cozinha foi o suficiente para mudar o rumo a minha vida.

Z: Fez formação na escola de cozinha Cordon Bleu. O que aprendeu e que recordações guarda dessa experiência?
MRV: Quando entrei pela primeira vez, pelas portas do edifício onde se encontra a escola, não sabia, literalmente, nada de cozinha. Um ano depois, quando sai por essas mesmas portas pela última vez, levava debaixo do braço o “Grand Diplome” em cozinha e pastelaria, assim como o que aprendi, que foi mesmo muito. Entrei sem “vícios” e como uma esponja pronto a absorver tudo o que me fosse ensinado. Saí com todas as bases (algo que infelizmente falta a muitos jovens cozinheiros) e pronto a entrar na indústria pela primeira vez.
Todas as recordações que guardo desse tempo, no Cordon Bleu, e dessa etapa da minha vida são realmente muito boas. Foi, sem dúvida alguma, uma experiência muito enriquecedora e que de alguma forma ajudou a “moldar” o cozinheiro que hoje sou.

Z: Neste momento pode ser visto, aos sábados na TVI, no concurso MasterChef. Que balanço faz deste programa?
MRV: Bastante positivo.
Adorei cada minuto e tive a sorte de poder trabalhar e de conhecer pessoas maravilhosas. É uma honra e um orgulho muito grande poder fazer parte desta grande família que se chama MasterChef.

Z: Como é a sua relação com os outros jurados? E com os concorrentes?
MRV: Muito sinceramente, acho que não podia ser melhor. Arrisco-me mesmo a dizer que uma das chaves do sucesso do programa é essa boa relação que existe entre nós, jurados.
O Manuel Luís, para além do grande profissional que todos sabemos que é, tem uma enorme cultura gastronómica. Ajudou-me imenso a lidar com este mundo, novo para mim, desde o primeiro dia e rapidamente se tornou um amigo do qual gosto muito.
Por outro lado, com o Rui Paula, que viveu toda esta experiência como eu pela primeira vez, é com quem mais converso e desabafo. Estamos quase sempre juntos e temo-nos ajudado mutuamente nas mais diversas situações.
Com os concorrentes, embora possa parecer suspeito, acho que mantenho com todos uma óptima relação, continuando ainda hoje a trocar mails e mensagens com quase todos eles, que sabem que me têm aqui para o que for necessário. Ao contrário do que algumas pessoas possam pensar, a exigência não é sinónimo de arrogância.

Z: Quando o programa estreou, foi alvo de críticas pela sua “exigência” e “dureza”. É preciso ser exigente para vingar nesta área?
MRV: Não conheço ninguém que tenha vingado na sua área, seja ela qual for, sem algum tipo de exigências.
Sou exigente comigo mesmo, com aquilo que faço e com as pessoas que colaboram comigo. Não vejo nada de errado com isso. Podem-me acusar de ser exigente, mas ninguém o pode fazer se não for justo.
Ao longo da minha vida profissional sacrifiquei muitas coisas. Sacrifiquei a minha adolescência, a minha família e os meus amigos. Se fazes tais sacrifícios é melhor que, no final, tenham servido para alguma coisa e se não serviram é porque fizeste algo de errado.

Z: Como lida com o mundo da televisão?
MRV: Acho que lido relativamente bem.
Como sabe, a televisão é, ou melhor era, um mundo novo para mim e é normal que, ao princípio, me tenha sentido um pouco nervoso com câmaras e guiões, mas felizmente foi superado rapidamente. Acho que se há um “segredo” é que te divirtas com aquilo que fazes. Eu posso dizer que me diverti imenso e adorei cada minuto das gravações.

Z: Acha que o MasterChef deveria de ter mais temporadas?
MRV: Quem sou eu para responder a essa pergunta…
Pelo que tenho lido acho que há um interesse geral em fazer, pelo menos, mais uma temporada. A única coisa que lhe posso dizer é que, se isso acontecer e se me voltarem a convidar, o farei com muito agrado.

Z: O seu restaurante em Budapeste, o Costes Restaurant, ganhou pela quinta vez a estrela Michelin. Qual é o segredo para o sucesso?
MRV: Nesta profissão não há segredos.
O “sucesso” passa por muitas horas de trabalho, muita dedicação, provas, investigação, stress, e, acima de tudo, muita paixão.

Z: Perguntas Rápidas:
Vicio… não tenho vícios.
Livro/filme/música/série favoritos… The Flavour Thesaurus/Pulp Fiction, de Quentin Tarantino/Soulful House/The mind of a chef.
Na TV não dispenso… não vejo TV.
A pessoa que mais admiro… admiro bastantes pessoas.
Não vivo sem… paixão.
Um dia corre bem quando… adormeço com um sorriso na cara.

Z: A sua vida dava uma novela? Porquê?
MRV: Acho que sim, poderia dar uma novela. Mas uma novela que ainda está no princípio e espero que tenha um final feliz.

Entrevista de Nuno Costa
Revisão de Margarida Costa