[Raio Z] Entrevista a Rosa Carvalho: “Sinto que no nosso país não se dá o valor e o respeito merecido a quem, pela experiência da vida, já acumulou muita sabedoria.”

Rosa Carvalho tem 49 anos e ficou conhecida no concurso culinário da TVI, MasterChef. Hoje vamos vê-la em Raio Z e ficar a conhecer a origem do seu amor pela cozinha e que projectos a esperam no futuro.

Zapping: Como se pode definir a Rosa Carvalho?
Rosa Carvalho: Sou uma pessoa trabalhadora, divertida, teimosa, objectiva, humilde, amiga, mãe, companheira, exigente, mandona.

Z: Quando descobriu o seu gosto pela culinária?
RC: Desde os meus 7 anos, quando cozinhei pela primeira vez para os meus pais e irmão, foi uma coisa simples, mas a partir dessa altura comecei a demonstrar um gosto especial que foi evoluindo ao longo do tempo. Depois entrei para A Associação das Guias de Portugal e nos acampamentos era eu que cozinhava, mesmo nas situações mais adversas. Aí aprendi a elaborar os menus para vários dias e a cozinhar para muitas pessoas.

Z: Como surgiu a oportunidade se inscrever no MasterChef?
RC: Há já alguns anos que vejo a versão australiana do concurso e sempre pensei que gostaria muito de participar. Quando vi o anúncio na TVI, decidi candidatar-me, mandei o formulário num dia às 3 da manhã.

Z: O que achou do seu percurso neste programa?
RC: Considero que foi muito bom, dei sempre o meu melhor, esforcei-me sempre, aceitei as regras, pois eu queria muito lá estar. Só o estar nos 15 finalistas já foi uma grande vitória, pois eram milhares os que concorreram, depois foi tentar ir sempre ultrapassando as provas, melhorando e aprendendo cada vez mais, para chegar o mais longe possível.

Z: O que aprendeu no MasterChef?
RC: Aprendi imenso, uma coisa é o cozinhar diariamente para a família, coisas simples, mas mesmo assim agora as coisas simples tornaram-se muito mais elaboradas. Exemplo disso é o selar da carne que eu antes não fazia. Não nos podemos esquecer que a equipa dos jurados, convidados e dos chefes que se encontravam na retaguarda, para nos apoiar, eram magníficos.

Z: Que relação teve com os jurados? E com os outros concorrentes?
RC: A minha relação quer com os jurados, quer com os concorrentes foi sempre muito boa. Claro que, naturalmente, tinha mais afinidade com uns do que com outros, no entanto dei-me sempre bem com todos e gosto de todos.

Z: Quais as diferenças entre a Rosa de antes e depois do MasterChef?
RC: Não existem grandes diferenças. Eu continuo a mesma pessoa, só que com mais conhecimentos e com uma grande experiência na bagagem, que me fez perceber que gostaria de me dedicar à cozinha, mas infelizmente ainda não o posso fazer. O clima económico não é o melhor e, neste momento, tenho filhos a estudar e contas a pagar, por isso preciso de manter o trabalho que me garante o sustento. É muito difícil e arriscado abandonar tudo e ir atrás de um sonho, preciso ser realista e apenas avançar se tiver alguma proposta ou projecto que seja aliciante. Já foi muito difícil quando participei no programa, pois tive de gastar quase todos os meus dias de férias e ainda pedir uma licença sem vencimento. De resto continuo a mesma mulher que luta todos os dias para ser feliz.

Z: Costuma ser reconhecida e acarinhada na rua pelas pessoas?
RC: Na verdade nunca pensei que isso acontecesse, mas sou efectivamente reconhecida e muito acarinhada, desde já gostaria de agradecer a todos os que me tem apoiado e pelo carinho que demonstram.

Z: Acha que nunca é tarde para aprender? Porquê?
RC: É verdade, eu acho que nunca é tarde para aprender. É surpreendente a capacidade que o ser humano tem de aprendizagem, agora é lógico que tem que haver força de vontade para o fazer. Vivemos numa era de constante mudança em que é preciso estarmos atentos a tudo o que aparece de novo, de acompanhar as tendências, as tecnologias, os novos produtos, e isso exige um trabalho constante de aprendizagem, quer dos mais novos quer dos mais velhos. Agora, isto de dizerem que tem que se dar oportunidade aos novos, acho muito bem, mas e os menos novos, como eu? Ainda podem ser muito úteis à sociedade e não devem ser simplesmente arrumados a um canto. Sinto que no nosso país não se dá o valor e o respeito merecido a quem, pela experiência da vida, já acumulou muita sabedoria. Não defendo que só porque alguém é mais experiente deve ser colocado num pedestal. O ideal será a junção da vitalidade e irreverência dos mais jovens com a sabedoria dos mais velhos. Eu vejo isto nos meus filhos, que estão quase a entrar no mundo do trabalho, e que como muitos jovens não têm oportunidades no nosso país e são forçados a emigrar e nos meus amigos que estão desempregados mas que ainda têm muito para dar.

Z: Qual é o seu lema? E porquê?
RC: Tenho vários lemas, um é : “o sonho comanda a vida”, acho que este é o meu preferido porque enquanto sonhamos, vivemos, choramos, rimos, tudo é possível no mundo dos sonhos, porque não transpor isso para a realidade?

Z: Qual é o seu maior sonho?
RC: O meu maior sonho é estar à frente de uma cozinha e elaborar pratos com todo o carinho, mas existe um sonho maior que é ver os meus filhos bem, com saúde e empregos, pois isto está muito difícil.

Z: O que podemos esperar da Rosa no futuro? Vamos ouvir falar de algum projecto?
RC: De mim podem esperar tudo, vou ter um blog de culinária que se vai chamar “Meninos para a mesa”, e estou a tentar reunir as condições para poder dar uns workshops que tenho preparados e, quem sabe, consiga abrir o que tanto quero: um restaurante.

Z: Perguntas Rápidas:
Vicio… chocolate.
Livro/filme/música/série favoritos… O nome da Rosa/ A lagoa azul/Viva la Vida dos ColdPlay/CSI – Miami.
Na TV não dispenso… programas de culinária.
A pessoa que mais admiro… O meu companheiro – um homem com H grande, um ser humano fantástico.
Não vivo sem… os meus filhos, sem amor, sem amizade.
Um dia corre bem quando… acaba em família.

Z: A sua vida dava uma novela? Porquê?
RC: Na realidade acho que a minha vida daria uma boa novela. Tem de tudo: amores, enganos e desenganos, alegria e tristeza, muita emoção, grandes dificuldades, grandes feitos e grandes aventuras. Tem de tudo um pouco.

Entrevista de Nuno Costa
Revisão de Margarida Costa