[Edição 6] “Mira Técnica”: Fim à Vista!

Por Paulo Andrade

Nos últimos anos tem aumentado a discussão sobre o futuro da televisão generalista, incentivada pelo crescimento dos canais temáticos e outras formas de ver televisão como gravação de conteúdos, internet e telemóvel que levam a que os espectadores não assistam aos programas quando são emitidos.

O fim dos canais generalistas é o próximo passo na evolução do sector audiovisual.

No entanto esta mudança de paradigma está a ser atrasada pela crise económica que inviabiliza o aproveitamento da plataforma de televisão digital terrestre.

Não será possível continuar a apostar em mais canais temáticos nacionais sem relevo no universo de televisão por cabo como tem vindo a ocorrer.

Certamente os operadores de televisão por cabo irão pôr um travão nas pretensões de criação de mais canais temáticos quando perceberem que estes geram uma despesa superior à receita.

E também chegará o momento em que os operadores nacionais perceberão que não faz sentido manter canais temáticos sem estrutura, sem dimensão, sem audiências e sem aproveitamento.

Na última terça-feira (26/02) a liderança entre os canais temáticos coube ao canal Hollywood, um canal estrangeiro, com um valor de audiência igual à soma dos quatro canais temáticos da SIC. Em regra, apenas os três canais de informação nacionais conseguem um lugar entre os 10 canais mais vistos do universo cabo. Esta situação revela como apesar do cada vez maior número de canais temáticos nacionais estes não despertam grande interesse junto dos espectadores.

Por isso, acredito que nos próximos anos será realizada uma reconversão destes canais temáticos que passará pela sua colocação na TDT. Deste modo, o serviço prestado actualmente por um canal será dividido por dois ou três canais especializados.

Por exemplo, no futuro, a informação da SIC, RTP ou TVI poderá ser emitida em exclusivo pelos respectivos canais de informação e a ficção em exclusivo pelos actuais canais principais.

É uma evolução natural que vai por fim à atual redundância na oferta televisiva gerada pela limitação de acesso que marcou as duas primeiras décadas do desenvolvimento de novos canais de televisão.

Na minha opinião, os canais generalistas foram a resposta à limitação tecnológica e não o resultado da escolha do melhor modelo de actividade.

Com a possibilidade de acesso de toda a população a maior número de canais é normal que o paradigma de um único canal em sinal aberto para oferecer todos os conteúdos perca sentido e caia em desuso.

Provavelmente esta transformação ocorrerá até ao fim desta década.

Fiquem em boa companhia.