Avó Miquinhas (Catarina Avelar)
Miquelina, a quem todos chamavam de Miquinhas, tinha alma de artista e, ainda na adolescência, começa a conviver com artistas da Revista à Portuguesa. A mãe preparava-a para ser uma mulher prendada, e ter um bom casamento, mas o que Miquinhas queria mesmo era cantar e dançar nos palcos do Parque Mayer. Um dia o pai descobre os seus interesses e manda-a para um lar de freiras, no Norte. Miquinhas detestou a experiência e acaba por fugir com o carteiro, um jovem comunista que mais tarde é preso pela PIDE. Nessa altura Miquinhas vai bater à porta do Teatro Mayer, onde não tem lugar como artista, mas é aceite como costureira. Viaja com os artistas nas suas digressões e faz de tudo um pouco. A sua vida deu muitas voltas. Foi cabeleireira e costureira mas aos 60 anos acabou por ficar sozinha e sem ocupação, e começa a sofrer de solidão. Miquinhas resolve inscrever-se num programa de combate ao isolamento da terceira idade – é quando lhe aparece Maria no caminho. Miquinhas simpatiza imediatamente com ela e Maria revela-se uma ótima companhia. Em troca do quarto, Maria ajuda Miquinhas nas limpezas e na preparação das refeições.
Luciano Castro (Ruy de Carvalho)
Pai de Inês e Branca, é um empresário honesto e trabalhador que construiu fortuna em Angola, mas perdeu tudo com o 25 de Abril. Nessa altura, teve de regressar a Portugal com a mulher e as duas filhas e foi obrigado a recomeçar do zero. Por causa disso, viveu amargurado durante alguns anos, pensando no que deixara em Luanda. Com a morte da mulher, a mãe de Inês e Branca, decidiu regressar a terras africanas, onde se sentia “em casa”. Montou por lá uma empresa, sem grande sucesso, e vem muito raramente a Portugal. Mais tarde, refará a sua vida ao lado de uma mulher mais nova, o que lhe vai renovar o ânimo e a vontade de estar mais próximo dos netos que tem em Portugal.
Branca Semião (Dina Félix da Costa)
Branca nasceu em Angola, mas já no contexto de tensão que obrigou a família a retornar a Portugal. Ao contrário da irmã Inês, ela nunca conheceu a estabilidade emocional e financeira em que a família vivia em Luanda. Cresceu ansiosa, a ouvir falar de todas as mordomias que nunca conheceu, o que lhe incutiu o desejo de um dia ser rica. A sua irmã Inês procurou recuperar a estabilidade por via dos estudos e do trabalho. Branca, menos talhada para a escola, procurou-a por via do casamento. Acaba assim por casar, sem amor, com o administrador de um banco, Vasco Semião, que lhe proporciona a vida com que ela sempre sonhou. Com dificuldades em engravidar, a sua única filha nasceu de um tratamento de infertilidade. Apesar de gostar da irmã, Branca nunca conseguiu ter uma boa relação com ela nem com os sobrinhos. Branca nunca amou Vasco, e ele, pouco a pouco, foi também perdendo o interesse pela mulher, começando a traí-la com outras mulheres. Quando Vasco resolve “fugir” sozinho para o Brasil, Branca sente-se de certa forma aliviada. Mas quando ele deixa de enviar dinheiro e as dívidas começam a aparecer, Branca percebe que tem de arranjar uma outra solução para a sua vida.
Zézinha (Rita Ribeiro)
Zezinha veio, como tantas outras meninas da província, de Trás-os-Montes para servir em casa dos pais de Vicente e Francisco. Tinha na altura 13 anos. Quando os patrões faleceram, mudou-se para casa do seu “menino Vicente” e por lá conta ficar até ao final da sua vida. Zezinha é muito bem-disposta, mas quando lhe pisam os calos não mede muito as palavras. Diz que tem o cérebro ligado à boca, e quando dá por ela, já soltou o que não devia. Mas tem um enorme coração e vive para dar alegria aos outros. Adora preparar bolos e cozinhados para os seus meninos, o que deixa muitas vezes Inês de cabelos em pé, devido à sua vontade de alimentar os filhos de forma saudável. O seu preferido é o guloso Simão, a quem ela leva doces às escondidas. Quando Maria assume o governo da casa, Zezinha não lhe reconhece logo capacidades para a função, razão pela qual faz o que lhe apetece, muitas vezes cedendo a tudo o que os seus 5 meninos lhe pedem.
Guida Afonso (Sara Barradas)
Guida cresceu numa aldeia do Alentejo, numa família de poucas posses e estudos. A mãe, doméstica e vendedora de roupa em casa, e o pai, condutor de ambulâncias, sempre incentivaram a filha a estudar e a procurar uma vida melhor. Desejavam que a filha entrasse em Direito e se tornasse advogada, mas as notas de Guida só lhe permitiram entrar em Antropologia. Vai para Lisboa com esperança de conseguir mudar de curso, mas essa mudança nunca ocorre, e Guida não tem coragem para continuar a receber dinheiro dos pais. Resolve então responder a um anúncio para empregada interna numa casa da linha de Cascais. É assim que vai parar a casa dos Elias, família pela qual se afeiçoa. Inês, ao saber da sua situação, incentiva-a a não desistir do curso – ainda que tenha de o compatibilizar com as tarefas da casa. Em contrapartida, Guida revela-se, desde logo, uma excelente empregada. Para as 5 crianças lá de casa, Guida nunca teve tanta paciência. Nas costas dos patrões trata-os de igual para igual, e é capaz de lhes dar os maiores raspanetes quando os sente irresponsáveis ou mandriões. Diz que trocou os índios que estudava na faculdade pelos “índios” que habitam aquela casa.